7 de jan. de 2009

Beijo mordido

Inspirada numa distância

Um amigo em comum os apresentou. No bar.
Eram filósofos de boteco.
Alguém levantou um tema polêmico na mesa e, em breve acontecia o primeiro debate filosófico entre eles.
Por mais divergentes que fossem suas opiniões, reconheceram que ali estava um adversário à altura. Surgiu o respeito mútuo.
Ele, o mais novo da mesa, era um velho conhecedor das coisas do mundo. Pensava como pensaria uma mulher, se fosse homem.
Ela, única mulher da mesa com voz ativa, era literata e feminista. Pensava como pensaria um homem, se fosse mulher.
Empatia.
Pouco tempo depois já não precisavam de intermediários, nem de platéia, para sentirem-se confortáveis durante seus debates.
Debatiam sobre seus escritos, lugares, amor, religião, sexo, drogas e rock’n roll. Debatiam sobre praticamente tudo, exceto futebol.
Ele era avesso à bola.
Ela era fanática.
Ele achava engraçado como ela ficava rememorando as conversas e criando novas teorias e argumentos.
Ela achava engraçado como ele tinha memória curta, de galinha velha, satisfazendo-se com uma só versão para as coisas.
Às vezes ele sumia.
Outras, ela sumia.
Tinham suas vidas paralelas.
Ele era poeta.
Ela era contista.
Apesar de suas diferenças, havia amizade entre eles. E havia o beijo com uma mordida no meio.
Gostavam dos beijos mordidos tanto quanto gostavam dos debates.
Gostavam de suas diferenças.
Gostavam de poder continuar com suas vidas paralelas.
Ele foi embora para divulgar suas poesias pelo mundo real.
Ela ficou para divulgar seus contos no mundo virtual.

Um comentário:

  1. Talvez seja um comentário infeliz...Mas esse texto me lembrou da amizade sua com o meu irmão.

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