15 de jul. de 2010

Maria Ruth


Inspirada numa redescoberta

Na adolescência, naquela fase em que não sabemos qual o nosso lugar e função no mundo, muitos se perdem em sexo, drogas e rock 'n roll e fogem para um mundo só deles.
Comigo não foi diferente, mas, diferente de muitos colegas, eu fugia para dentro dos livros.
Ficar lendo por horas e horas era muito mais fácil do que encarar a vida.
Um hábito saudável, certamente, mas, por vezes naquela época, minha leitura era mecânica. Eu era uma devoradora de histórias em quantidade e não qualidade, uma vez que nem todas eu internalizava.
Fui criada com quatro tias leitoras e, por essa razão, tive acesso aos mais variados títulos, desde as novelas românticas pseudo-pornográficas-literárias de séries como "Sabrina" e "Júlia", até a clássicos como "A Divina comédia" e "O morro dos ventos uivantes".
No turbilhão dessas leituras, no entanto, sinto que deixei escapar uma história, no mínimo, interessantíssima: "Maria Ruth", autobiografia de Ruth Escobar, que guardo até hoje.
Assistindo à série de homenagens às mulheres que a TV Cultura fez há algumas semanas, deliciei-me com uma reportagem sobre Ruth Escobar, com entrevistas com a própria e depoimento de grandes nomes das Artes Brasileiras.
Essa mulher, politicamente engajada, culturalmente produtiva, emocionalmente espancada,  sexualmente cerceada, representou o feminismo brasileiro nas mais diferentes frentes.
Ao lançar sua autobiografia "Maria Ruth", rompeu com o silêncio do cinto de castidade e inspirou algumas mulheres a romperem com seus cilícios também.
É por essas e outras que, em breve, pretendo redescobrir Ruth Escobar e todas suas rupturas.

6 de jul. de 2010

O quieto animal da esquina



Inspirada numa incongruência

Sempre apregoei e continuo afirmando que a beleza de uma obra está nos olhos e ouvidos de quem a vê, lê ou ouve e não na intenção do autor.
O conceito de "Arte" depende da interpretação do seu espectador.
Argumentado meu ponto de vista, que venha a história...
Tenho devorado e redevorado vários livros, de diferentes estilos e inúmeros autores, para manter meu corpo em repouso, na cama.
Algumas leituras são esquecidas assim que terminadas. Outras, me incitam a escrever.
Assim está sendo com "O quieto animal da esquina", obra de João Gilberto Noll.
Confesso minha ignorância. Eu nunca tinha ouvido falar nele. Nem bem, nem mal, então, iniciei a leitura sem influências.
Geralmente, gosto de iniciar leituras assim, pois posso ler sem rótulos, à minha maneira, desvendando a história página por página.
Com esse livro, no entanto, nada consegui desvendar.
Que merda.
O livro não tem sentido.
Não tem lógica.
São entrelinhas demais.
Não há desfecho, nem explicação.
Adoradores de Noll podem me acusar de necessitar de historinhas redondinhas, com início meio e fim. Tolos. O livro é ruim...
Adoro a subjetividade. Prova disso é que adoro Clarice Lispector sobre todos os outros.
O livro não tem nada. Usa um falso plano de fundo social, com uma citação dispersa sobre uma caminhada do MST, o fato da personagem principal ser um estuprador, que mora num prédio inacabado, invadido e que escreve poemas.
Até aí, ainda existe alguma história, mas então, ele é "adotado" por uma família, meio torta e fim.
Pode parecer que há uma coerência no relato do livro da maneira que estou explicando, mas só eu sei o esforço que fiz para tentar explicar a história que nem mesmo existe.
É isso. Noll não vale a pena ser lido.
Mas, reafirmo, a beleza da obra depende dos olhos de quem a lê.
Quem quiser perder tempo com o livro em questão, que o faça por sua conta e risco.