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15 de fev. de 2011

A menina que não sabia ler


Inspirada numa reviravolta

Meados de setembro passado comprei "A menina que não sabia ler", de John Harding, porque estava sem leitura de banheiro e "A ilha sob o mar" de Isabel Allende, para ler na cama, porque ainda não havia lido nada desta prestigiada escritora que foi ícone da Flip de 2010.
Aliás, acho que já comentei sobre isso, mas vale ressaltar. Classifico minhas leituras em: leituras de banheiro e leituras de cama.
As leituras de banheiro são aquelas obras menores, que se lê no banheiro para passar o tempo, enquanto a leitura de cama é privilégio dos bons livros, que me incitam a ter um caderninho de anotações ao lado da cama, para ir registrando todas as ideias e frases de efeito que me agradam.
Pois bem, assim foi. "A menina" no banheiro e "A ilha" na cama.
Quando iniciei a leitura do primeiro, imediatamente, desde o título, fiz associação com o inestimável "A menina que roubava livros", história da qual gostei tanto, que fui impelida a criar este blog, mas isso já é história velha, contada na primeira postagem aqui.
Enfim, o livro conta a história de uma órfã - outra semelhança - que descobre uma enorme biblioteca proibida na mansão em que mora e aprende a ler sozinha. Apesar da inevitável sensação de "já vi essa história" comecei a gostar do ritmo do livro e julguei-me predisposta à leitura simultânea de "A ilha".
Este segundo livro, da editora Bertrand Brasil, com uma encardenação bem cuidada, detalhes na capa em altorrelevo, que me custara o dobro do primeiro, já me despertou desconfiança logo no começo, pois o "resumo" contido em sua orelha não condizia com o que eu estava lendo logo no primeiro capítulo, por exemplo: a orelha dizia que Zarité - a personagem principal - aprendeu a dançar e recebeu amor paterno do velho Zacharie, mas, o nome do velho escravo era Honoré.
Enquanto isso, o enredo de "A menina" começou a mudar e a se diferenciar do outro "A menina" e, após três dias de leitura simultânea, os livros trocaram de posição. "A ilha" foi para o banheiro, enquanto "A menina" veio para a cama. Sobre "A ilha", só direi que a leitura vale pelas informações, do então desconhecido para mim, Haiti, devastado por um terremoto ano passado e sobre o qual eu não sabia nada. Mas deixo claro que, futuramente, ainda pretendo voltar a ler Isabel Allende e, quem sabe, recomendá-la.
Agora, voltando ao livro que intitula esta postagem, que surpresa!
A reviravolta na história, a desconexão entre alguns fatos e a não explicação de tantos outros, fizeram com que eu refletisse mais sobre a natureza humana.
Lembrei-me, inclusive, de um debate do qual participei na faculdade certa vez, no qual tinha que defender a teoria de Maquiavel de que "todo homem é mau por natureza". Considero muito provável que John Harding compartilhe desta teoria, já que, embora não a defenda, explicita essa condição nas páginas finais da sua obra.

22 de nov. de 2010

Invisível

Inspirada numa capa

Toda livraria que se preze, precisa ter uma cafeteria ao lado, pois há poucas coisas que combinem tão bem quanto um bom livro e um bom café. Talvez cerveja gelada e panceta do Mineiro seja outro bom exemplo combinatório, mas em outro contexto.
Pois bem, reambientando esta história, estava eu com a gula despertada pelo aroma inebriante da cafeteria vizinha, quando adentrei à Livraria Laselva apenas para olhar e então deparei-me com a suculenta capa cor de creme de Incrível, romance de Paul Auster.
Café com chantilly. Minha boca aguou.
Papel lombado, apetitoso. Título em baixo relevo. Eu precisava morder aquela capa.
Fui verificar o preço num daqueles aparelhos que lêem o código de barras. Estava quebrado. Fiquei sem ação. Por sorte, uma simpática atendente veio ao meu encontro e socorreu-me.
Consultou o preço no caixa enquanto eu babava e anunciou: R$ 49,90.
"Que chantilly caro, pensei". Chorei um desconto a vista e consegui arrematar a porção de creme por 39 reais.
Ela entregou-me um exemplar embalado.
Não apenas o plástico separava minha arcada dentária daquele item apetitoso, mas toda uma cadeia de convenções sociais e, mesmo que a contragosto - e também para não envergonhar o Fábio e o Léo que estavam comigo, confesso - contive-me.
Quando chegamos em casa, não resisti mais. Abri com sofreguidão a embalagem e cravei os dentes naquele objeto.
Salivante. Eu estava salivando e foi inebriante saciar o tosco desejo oral naquele instante e algo inevitável aconteceu. O livro preso em minha boca, acariciado pelos meus dentes, soltou aquele cheiro de papel novo e meu olfato despertou a minha fome de histórias.
Foi como quando a gente sente cheiro de pão quentinho e café coado.
Entreguei-me à leitura. Grata surpresa.
Tenho, desde então, sorvido a escrita de Auster em pequenas doses diárias, de modo a saboreá-la o máximo possível. Embora esteja gostando muito da história, da narrativa sobre um jovem estudante de literatura, às voltas com a luxúria, o passado, o idealismo, referências literárias e históricas e até um possível incesto, existe a possibilidade de que, no fim das contas, o enredo não deixe nenhuma marca em mim, mas, a minha marca, a marca da devoradora, sempre estará impressa na capa deste livro.

17 de set. de 2010

A vida íntima de Laura

Inspirada numa contação de histórias

Quando o Léo, meu primogênito, era pequeno - ele prefere que eu diga "quando era criança", pois no auge dos seus 12 anos, já se considera um adolescente, quase adulto, embora nunca cresça para mim... - eu lia para ele todas as noites, na esperança de despertar o gosto pela leitura nele.
Infelizmente, não funcionou muito. Ele não gosta de ler. Mas adora histórias. Especialmente se eu lê-las em voz alta para ele. Enfim, mas dentre tantas lidas, a minha preferida que passou a ser uma das preferidas dele também, foi resgatada do fundo do armário: A vida íntima de Laura.
Essa obra infantil de Clarice Lispector - que escreveu 5 livros infantis: O mistério do coelho pensante (1967); A mulher que matou os peixes (1968); A vida íntima de Laura (1974); e dois publicados postumamente, Quase de verdade (1978) e Como nasceram as estrelas (1987) - é tão maravilhosa que foi objeto de análise da minha monografia, além de ser material fantástico para trabalhar em sala de aula.
Pois bem, como eu vinha dizendo, tentando liberar espaço no armário para acomodar os presentes do Chicão, encontrei o livro - na verdade a versão em e-book da obra, a qual imprimi - e me emocionei.
Peguei o Chico em um braço e "Laura" no outro e, caminhando pela casa, fui narrando os pensamentozinhos e sentimentozinhos da personagem principal. Que delícia. O Francisco prestou atenção o tempo todo e, mesmo não tendo entendido bulhufas, tenho certeza de que o ritmo do texto clariciano o agradou.
Mas, você deve se perguntar, afinal, quem é Laura?
Primeiro é necessário explicar o que é vida íntima...
Segundo a própria Clarice, vida íntima é aquilo que acontece na casa da gente e não devemos contar para ninguém.
E, mesmo assim, ao longo das deliciosas páginas, Clarice vai nos contando tudo sobre a vida íntima da Laura.
Agora, quanto a quem é Laura, te dou um beijo na testa se adivinhar!!!
Disponibilizarei o e-book no meu 4shared.
Faça o download e descubra o mistério. É diversão de ótima qualidade garantida!

15 de jul. de 2010

Maria Ruth


Inspirada numa redescoberta

Na adolescência, naquela fase em que não sabemos qual o nosso lugar e função no mundo, muitos se perdem em sexo, drogas e rock 'n roll e fogem para um mundo só deles.
Comigo não foi diferente, mas, diferente de muitos colegas, eu fugia para dentro dos livros.
Ficar lendo por horas e horas era muito mais fácil do que encarar a vida.
Um hábito saudável, certamente, mas, por vezes naquela época, minha leitura era mecânica. Eu era uma devoradora de histórias em quantidade e não qualidade, uma vez que nem todas eu internalizava.
Fui criada com quatro tias leitoras e, por essa razão, tive acesso aos mais variados títulos, desde as novelas românticas pseudo-pornográficas-literárias de séries como "Sabrina" e "Júlia", até a clássicos como "A Divina comédia" e "O morro dos ventos uivantes".
No turbilhão dessas leituras, no entanto, sinto que deixei escapar uma história, no mínimo, interessantíssima: "Maria Ruth", autobiografia de Ruth Escobar, que guardo até hoje.
Assistindo à série de homenagens às mulheres que a TV Cultura fez há algumas semanas, deliciei-me com uma reportagem sobre Ruth Escobar, com entrevistas com a própria e depoimento de grandes nomes das Artes Brasileiras.
Essa mulher, politicamente engajada, culturalmente produtiva, emocionalmente espancada,  sexualmente cerceada, representou o feminismo brasileiro nas mais diferentes frentes.
Ao lançar sua autobiografia "Maria Ruth", rompeu com o silêncio do cinto de castidade e inspirou algumas mulheres a romperem com seus cilícios também.
É por essas e outras que, em breve, pretendo redescobrir Ruth Escobar e todas suas rupturas.

6 de jul. de 2010

O quieto animal da esquina



Inspirada numa incongruência

Sempre apregoei e continuo afirmando que a beleza de uma obra está nos olhos e ouvidos de quem a vê, lê ou ouve e não na intenção do autor.
O conceito de "Arte" depende da interpretação do seu espectador.
Argumentado meu ponto de vista, que venha a história...
Tenho devorado e redevorado vários livros, de diferentes estilos e inúmeros autores, para manter meu corpo em repouso, na cama.
Algumas leituras são esquecidas assim que terminadas. Outras, me incitam a escrever.
Assim está sendo com "O quieto animal da esquina", obra de João Gilberto Noll.
Confesso minha ignorância. Eu nunca tinha ouvido falar nele. Nem bem, nem mal, então, iniciei a leitura sem influências.
Geralmente, gosto de iniciar leituras assim, pois posso ler sem rótulos, à minha maneira, desvendando a história página por página.
Com esse livro, no entanto, nada consegui desvendar.
Que merda.
O livro não tem sentido.
Não tem lógica.
São entrelinhas demais.
Não há desfecho, nem explicação.
Adoradores de Noll podem me acusar de necessitar de historinhas redondinhas, com início meio e fim. Tolos. O livro é ruim...
Adoro a subjetividade. Prova disso é que adoro Clarice Lispector sobre todos os outros.
O livro não tem nada. Usa um falso plano de fundo social, com uma citação dispersa sobre uma caminhada do MST, o fato da personagem principal ser um estuprador, que mora num prédio inacabado, invadido e que escreve poemas.
Até aí, ainda existe alguma história, mas então, ele é "adotado" por uma família, meio torta e fim.
Pode parecer que há uma coerência no relato do livro da maneira que estou explicando, mas só eu sei o esforço que fiz para tentar explicar a história que nem mesmo existe.
É isso. Noll não vale a pena ser lido.
Mas, reafirmo, a beleza da obra depende dos olhos de quem a lê.
Quem quiser perder tempo com o livro em questão, que o faça por sua conta e risco.

24 de jun. de 2010

Leite derramado

Inspirada num presente

Três dias. Demorei três dias para dar cabo da leitura de "Leite derramado", romance de Chico Buarque.
O livro foi presente do meu querido companheiro, Fábio Shiraga, a quem agradeço imensamente.
Cabe ressaltar que, no início do namoro, estávamos - Fábio e eu -, certa vez, ouvindo música e, às tantas, ele me indagou:
- Fá, o quanto você gosta do Chico Buarque?
De pronto, respondi:
- O suficiente para querer um filho chamado Francisco.
Quando, tempos depois eu engravidei e descobrimos que era menino, escolhemos o nome Francisco, sem nos lembrarmos dessa conversa, mas, há uns dois meses, lembramo-nos desse diálogo e agora, ao terminar a leitura desse instigante livro de Chico Buarque, só me resta afirmar que meu filho terá o nome de um gênio das letras.
Vontando à obra... A primeira vista pensa-se que o livro filosofará sobre a velha dita de "não chorar sobre o leite derramado". Não é bem isso.
O monólogo - sim, toda a história é um monólogo - conta a trajetória de Eulálio, um centenário, que passou pelas mais diversas situações - trágicas e cômicas - ao longo da vida e que as conta em voz alta, num leito de hospital.
A narrativa não é linear. A temporalidade se atropela e, aos poucos, vamos descobrindo o que há de verdade ou invenção no relato. Talvez chamar de invenção não seja apropriado, já que, durante a própria história, o narrador pede escusas porque a memória, às vezes, tende a enganá-lo.
Além do enredo bem amarrado, a narração faz um percurso corretíssimo sobre a história política brasileira, bem como sobre a sociedade carioca do início do século passado.
Ora se ri. Outras, se chora. Dúvidas surgem. Teorias se concretizam e Chico Buarque mostra que, na literatura, assim como na música, é um exímio manipulador de palavras.
Quanto ao leite derramado, há sim de se chorar sobre ele, quando o mesmo tiver que ser dispensado em uma pia de banheiro, por uma mãe que não pode mais amamentar.

12 de mar. de 2010

O enigma da pedra

Inspirada num mistério

Mesmo depois de terminada a leitura, "O Enigma da Pedra", de Jim Dodge, continua enigmático para mim...
O Fábio ganhou o livro de presente do seu amigo Biajoni há algum tempo e me emprestou mês passado, porque eu estava reclamando, dizendo que queria ler algo diferente, que me prendesse e já comentava em comprar novos livros e, sabendo da minha compulsividade por comprar livros e da necessidade de economizarmos para o bebê que está por vir, ele lembrou-se desta obra e a ofereceu - como empréstimo por tempo indefinido - para mim.
A história da grávida, solteira, que foge de um centro de reabilitação para jovens meninas perdidas, de início, não me conquistou. Era muito parecida com outras tantas histórias muitas vezes lidas e até mesmo vivida, mas, com o desenrolar da trama, a ficção envolvendo ocultismo, alquimia, foras da lei e plutônio me fisgou.
Ansiava por desvendar as diferentes histórias que se desenvolviam ao redor da história de Daniel Pearse e me deliciava com as divagações filosóficas de Dodge.
Embora minha leitura tenha sido voraz, o término do livro só foi atingido ao final de três semanas.
Vale ressaltar que a obra tem várias páginas, sem desenhos, e letras pequenas, mas, o que retardou que eu desvendasse todo o enigma foi mesmo a densidade, complexidade e abrangência da história.
O "Enigma da Pedra" é um livro que vale a leitura.
Jim Dodge é um autor dedicado, preocupado com o leitor e o entendimento do leitor. Preocupado, talvez, um pouco demais, mas preciso ler outra obra dele para chegar a conclusão de que esta é uma característica do autor ou desta obra em questão.
Infelizmente, não encontrei o livro para download e, por essa razão, não posso disponibilizá-lo, mas, vale a busca em sebos ou bibliotecas e, para aguçar o interesse ou reforçar o desinteresse pelo livro, também vale ler a resenha que o Bia fez. http://www.verbeat.org/blogs/biajoni/2007/08/o-enigma-da-ped.html
No geral, o livro é bacana, vale a leitura, mas você não sentirá falta dele depois que desvendar o Enigma da Pedra.

25 de fev. de 2010

O grande Mentecapto

Inspirada numa leitura

Terminei a leitura desta obra há algum tempo, mas, a falta de tempo impossibilitou que eu comentasse sobre este grande livro antes.
O grande Mentecapto, de Fernando Sabino, narra as desventuras de Geraldo Viramundo pelas bandas de Minas Gerais e é um convite ao despertar do espírito aventureiro infantil e adolescente, que há em cada um de nós.
Sabino brinda o leitor com sua ironia, de quem conhece a fundo as histórias de Minas, os trejeitos e os maneirismos do seu povo, além da inesquecível culinária mineira.
Brincando com personagens verídicos, Sabino nos premia com citações magníficas, em mais de um idioma e nos leva a repensar sobre nossas atitudes diante da rotina do dia-a-dia e das misérias particulares e alheias.
O Grande Mentecapto conta as histórias de Geraldo Viramundo, uma criança feliz e imaginativa que acredita poder fazer o trem parar fora de sua estação.
A partir daí sua vida muda completamente de rumo transformando o mentecapto em um nômade, andarilho, herói, sábio.
O livro vale a leitura, pois a escrita de Sabino é ágil e o mentecapto é apaixonante, contudo, tive a impressão de que, no último capítulo, o autor havia já se cansado da história ou do seu personagem e a fluência do livro é interrompida com um final seco que não condiz com a exuberância literária do livro todo.
Mas é uma história que merece ser devorada e, talvez, abandonada no penúltimo capítulo, de forma que o leitor possa criar seu próprio final.

21 de jan. de 2010

Ela e outras mulheres


Inspirada numa reportagem

Ao ler uma crítica à conduta do escritor Rubem Fonseca, na época da ditadura, a qual, entre outras coisas, o denunciava como colaborador do Ipes - grupo responsável por censurar a produção cultural - lembrei-me que há alguns anos, na sala de espera de um consultório, li na sessão de Livros da "Veja", uma resenha sobre um livro de contos deste mesmo autor, intutilado "Ela e outras mulheres".
A matéria o apontava como "velho safado", uma vez que os contos do livro tinham uma veia erótica latente. São vinte e sete narrativas que têm um denominador comum, que se adivinha no título: as mulheres. Embora nem todas ocupem o lugar de protagonistas, a verdade é que todas desempenham um papel fulcral para o desenrolar das histórias. Não é, aliás, por acaso, que todos os contos têm por título nomes de mulheres com exceção do conto “Ela”, referido no título da obra.
O universo literário de Rubem Fonseca – algumas histórias policiais, frequentes ambientes negros, muitas personagens violentas e ligadas ao crime e sexo em doses consideráveis – está todo neste volume. É notável a forma como, em textos tão curtos (contos com menos de dez páginas), o autor consegue dar um panorama tão vasto sobre uma certa vivência urbana da sociedade brasileira contemporânea. E se é certo que esta não é uma obra-prima, não deixa de ser também verdade que é uma excelente montra sobre a produção de Rubem Fonseca.
Ao me lembrar do livro, revivi a sensação, não sem sorrir, de fechar o livro - porque ficava enrubescida - sempre que alguém entrava no quarto ou na sala, enquanto estava lendo. A leitura era picante, instigante.
Nunca julguei a revista "Veja" indispensável, já na época a considerava tendenciosa e hipócrita, mas, aquela resenha, me abriu os olhos para uma literatura que, até então, me era desconhecida.
Agora, lia que esse mesmo autor fora censor na ditadura.
Como era possível?
Alguém que escrevia o que ele escrevia, como ele escrevia, deve ter tido uma boa razão para que, mesmo em um curto espaço de tempo, tenha trabalhado com a corja censora.
Pesquisando mais sobre o autor e sua obra, encontrei o conto "Alice", uma total falta de hipocrisia, mas de machismo absoluto, outra razão para injustificar a forma como a tal revista o acusa agora.
O duro, é que a mesma revista que me fez descobrir esse autor brilhante, lança uma caça às bruxas tendo Rubem Fonseca como alvo principal.
Controverso.
Ao meu ver, mais uma prova de que a revista "Veja" dança conforme a música. E a música da vez é o denuncionismo que visa influenciar-nos a desviar os olhos de outras questões mais importantes.
"Veja" continua dispensável.

15 de out. de 2009

A sombra do vento


Inspirada num presente


Ao comemorar mais uma primavera, ganhou de presente do grande amigo um livro.
A capa acusava que se tratava de um Best Seller, com mais de 6,5 milhões de cópias vendidas no mundo.
Mas ela nunca tinha ouvido falar dele.
A contracapa avisava que a história tinha influencia de Poe e seus romances góticos.
Isso a seduziu.
O cenário era Barcelona, Espanha e o enredo girava em torno de um livreiro e seu filho e um autor e seus livros.
Suspense dos bons.
Muitas páginas.
Sentia-se realizada.
O livro passou a acompanhá-la.
Estava sempre na bolsa, ao alcance das mãos.
Exibia-o aos amigos.
O enredo na ponta da língua.
Julian Caràx, o personagem, lhe lembrava Julio Cortàzar, o escritor.
Aliás, sempre dizia que Cortàzar era a única coisa boa que a Argentina já havia dado ao mundo.
Ia dormir altas horas da madrugada, porque ficava lendo na cama.
O ritmo de leitura assemelhava-se ao que experimentara com "A menina que roubava livros".
E então aconteceu: ela adivinhou o final.
Faltavam 50 páginas ainda, mas ela já sabia como a história acabaria.
Chorou desiludida.
Abandonou o livro.
Sentiu raiva.
Começou outras leituras.
Desistiu.
Nada a empolgava.
Queria voltar a sentir aquele frio na barriga que o livro lhe proporcionara.
Acabou por retomar o livro.
A cada página, sua adivinhação se confirmava.
Antecipava na mente os acontecimentos seguintes... aquilo a estava torturando, mas não podia deixar o livro inacabado.
Aquela situação se arrastou por mais 10 dias e, no fim das contas, surpreendeu-se.
Não que o final da história tenha se alterado, mas, a forma como foi escrito encantou-a.
E ela e o livro fizeram as pazes.

22 de mar. de 2009

O primeiro

Inspirada num pé de laranja lima


Motivada pela grande quantidade de livros que minha mãe e minha avó tinham em casa, comecei a ler muito cedo. Lia, como ainda faço, dois ou três livros ao mesmo tempo, para demorar mais para chegar ao fim...
Com 12 anos já havia lido muita coisa, quase toda Coleção vaga-lume, com todas suas Ilhas Perdidas e os Mistérios do Cinco Estrelas.
Já havia rido e chorado com o jogo do contente da Pollyanna Menina e a Moça e tinha encontrado o Bugre-do-chapéu-de-anta em todas as aventuras por Taquarapoca.
Aos 13 anos, fui "obrigada" e ler Dom Casmurro e, pela primeira vez, detestei tanto um livro que pensei em nunca mais voltar a ler.
Eu ainda não havia me tornado uma devoradora de histórias...
A transformação de leitora compulsiva em devoradora ocorreu da noite para o dia, que foi o tempo exato que demorei para devorar meu primeiro livro: O meu pé de laranja lima.

http://www.4shared.com/file/94372669/f4cb8e8/Jos_Mauro_de_Vasconcellos_-_O_meu_p_de_laranja_lima.html
Esse foi e ainda é, para mim, um livro extremamente marcante, comovente e triste.

Marcante pela ironia da sua história, comovente pela simplicidade transmitida e pela forma com que foi escrito e triste pela dor e pelas perdas retratadas.

Com uma mescla de turbulentas emoções e pequenas conquistas e vitórias, vividas pelas personagens, que vêm à tona de forma simples e eloqüente, senti-me como se também eu participasse na história.
Neste livro, os grandes feitos, assim considerados pela nossa cegueira e egocentrismo, não são as ações merecedoras de importância, mas sim, as pequenas coisas, que no fundo acabam por ser as mais bonitas e importantes: as pequenas vitórias, a dor e a conquista do mundo real e da vida real, que acabam por ter uma fantasia mais doce e bonita e um misticismo mais profundo, do que as grandes lendas ou histórias, apenas pelo que são.

Devorei esse livro em menos de 12 horas, porque a história de Zezé despertou em mim sentimentos adormecidos e reflexões sobre quem eu era, enquanto indivíduo, e sobre qual meu lugar e função no mundo, o que tornou impossível que eu lesse qualquer outra história concomitantemente e impedindo-me de parar de ler, até mesmo quando as torrenciais lágrimas embaçavam minha vista.
Zezé, Portuga e Minguinho, desde então, fazem parte de mim, assim como outras personagens de inúmeras histórias que devorei ao longo dos anos, mas esses três têm e sempre terão, lugar cativo em meu coração.

3 de jan. de 2009

A devoradora de histórias

História inspirada numa menina que roubava livros


Sempre imagino minha vida como sendo uma história contada e não vivida.
Ontem terminei a leitura de “A menina que roubava livros”, mas, para que entenda a relevância dessa constatação, preciso voltar um pouco.
Fazia tempo que eu ouvia falar sobre esse livro. Ouvia falar bem, nada sobre a história, mas ouvia falar bem do livro. Porém, nunca tive o impulso ou a oportunidade real de adquiri-lo. Havia outros títulos em pauta que também me seduziam e sempre optava por um desses outros. Até que veio a pergunta:
- Mãe, que livro você queria ler, mas ainda não tem?
Inúmeros nomes fervilhavam em minha mente. Livros que eu precisava. Mas, tive um branco e só me veio à boca “A menina que roubava livros”.
Faltava uma semana para o Natal.
No dia 25/12, a roubadora de livros chegou.



Minha primeira reação foi de alegria, mas não genuína. Um bichinho interno me dizia “por que não escolheu outro, algum dos clássicos?”. Mas, uma voz externa me consolou:
- É um dos melhores livros que já li. Demorei seis meses para lê-lo, porque a leitura é difícil, te faz refletir e, durante o dia, você olha pra alguma coisa e, na hora, faz a relação: é disso que ele (o livro) estava falando...
Essa observação despertou a devoradora de histórias dentro de mim. Ela estava dormindo há quase um ano e mal podia esperar para estar a sós com o livro e devorá-lo. Minha expectativa era altíssima, mas nem sempre isso é bom, porque a realidade nunca condiz com minhas tolas expectativas.
Iniciei a leitura na noite do dia 26 pela narrativa em si, deixando a leitura da capa, contra-capa e orelha para o dia seguinte e foi aí que analisei o livro como um todo e fiquei genuinamente feliz. Minhas considerações e reflexões resultantes do primeiro dia de leitura estavam no caminho certo, pois, no verso do livro tinha uma chamada que eu não notei antes:
“Quando a morte conta uma história, você deve parar para ler”.
A morte tem sido uma sombra em minha vida, mas esse não é o tema dessa história, o assunto é a fome com que devorei esse livro.
Eu o carregava para todos os lugares, mesmo para aqueles em que não poderia abri-lo, mas lá ficava ele, em minha bolsa, ao alcance de minha mão e, só de tocá-lo, meu estômago parava de roncar.
Leitura difícil - como previra a consoladora. Palavras em alemão que eu não conhecia, mas as lia em voz alta dentro da minha cabeça e suas pronuncias, mesmo que equivocadas, para sempre estarão certas para mim.
O poder das palavras. É disso que trata o livro e foi isso que mais me encantou, porque não há lugar melhor para se encontrar palavras que nos livros. Os livros. Um livro salvou a vida de uma menina que roubava livros. Um livro salvou a minha vida. Não esse livro, mas um livro degustado muitos, muitos anos antes e que me transformou numa devoradora de livros.
Voltando à roubadora, no oitavo dia aconteceu algo inédito: não toquei no livro o dia todo.
Minto. Desculpe-me. Toquei-o pela manhã ao tirá-lo de debaixo do travesseiro para arrumar a cama e colocá-lo sobre a cômoda. Mas não o abri.
Nesse dia evitei a menina que roubava livros com todas as minhas forças e a razão era simples: estava muito próxima do final e sabia que estava muito perto de encontrar meu maior medo escondido na página seguinte: a moral da história.
Relutei. Tentei assistir outras histórias, ouvir outras histórias, ler outras histórias. Fiquei exausta. Deitei em minha cama. Apaguei a luz. No escuro silêncio da noite ouvi a voz da sombra:
“Venha comigo que lhe conto uma história. Vou lhe mostrar uma coisa”.
Então, ela me contou. Por duas horas e sessenta e três páginas, ela me contou o restante daquela história, mas, quando foi me mostrar aquela coisa, já não pude mais enxergá-la. As lágrimas haviam embaçado minha vista.
Se eu tivesse visto a moral da história dizendo que não devemos deixar passar a oportunidade de acarinharmos e dizermos que amamos às pessoas que amamos, provavelmente, agora eu estaria me sentindo impelida a me deixar escorregar nessas sentimentalidades.
Sorte a minha. Não vi nada disso, portanto, não me sinto culpada em guardar tudo para quando a sombra vier buscar um ou outro.
Terá que ser assim porque sempre imagino minha vida como sendo uma história contada e não vivida.