3 de dez. de 2010

Se meu fusca falasse

Inspirada numa lição

Ela estava eufórica. Havia comprado seu primeiro carro sem ajuda de pai, irmão etc.
Era uma vitória. Ganhara sua liberdade de ir e vir.
Andava no seu fusca branco, ano 68, semi-conservado, como se pilotasse um Porsche Carrera GT, eleito o carro do ano na época. Sentia o mundo a seus pés e se orgulhava de seu possante.
Vivia tempos de bonança.
Um aumento salarial possibilitara que colocasse o filho - que chegara em idade primária - em um bom colégio particular.
Fazia questão de buscá-lo na porta da escola com o vidro aberto, cabelos ao vento. O rádio sempre sintonizado em uma rádio que só tocava MPB. Exibia o seu bom gosto musical assim como exibia sua caranga.
Seu filho, sempre muito falante e alegre, portava-se cabisbaixo e amuado na saída da escola.
Preocupada que ele tivesse tendo problemas na escola, questionou-o e, veementemente, ele negou qualquer intercorrência.
Contudo, aquele comportamento não habitual repetia-se dia após dia e ela decidiu outra abordagem.
- Abra seu coração comigo, meu filho. O que está te incomodando?
Com um profundo suspiro ele revelou que sentia vergonha do fusca da mãe e pediu que ela não mais estacionasse na porta da escola, que parasse na rua de trás.
Ela, apesar de entender o sentimento do filho - afinal, também já havia sido criança e seu pai tivera uma "Variant" laranja -, ficou consternada com a aflição e, pela primeira vez, duvidou ter sido uma boa idéia colocar o menino em uma escola particular.
Será que ele havia desaprendido tudo o que ela havia ensinado sobre a irrelevância dos bens materiais?
Sem muito pensar sentenciou:
- Há coisas que causam muito mais vergonha do que um Fusca. Mas, farei o que me pede.
No dia seguinte, chegou um pouco antes do horário da saída estacionou o carro na rua transversal e foi, caminhando serenamente, esperá-lo na porta da escola.
Quem já viu uma saída de colégio sabe o tumulto e a algazarra que se formamquando o sino toca. É um embarque e desembarque constante em carros, vans e ônibus. Mães aglomeradas tentando reconhecer seus rebentos dentre tantas cabecinhas uniformizadas.
No meio dessa balbúrdia ela levanta os braços e com movimentos de chamamento se põe a cantar, elevando a voz acima da cacofonia "Vem neném, vem neném, vem neném, vem!" Algumas mães a olham com espanto e ela continua a cantoria, sempre o mesmo refrão, cada vez acrescido de mais um movimento de dança, como palmas e pulinhos, até que avista o filho e parte para o inevitável grand finale mãos nos joelhos e roboladinha.
O menino a olha espantado e pergunta porque aquilo e ela simplesmente responde que há coisas mais embaraçosas que um carro velho.
Ela continua a cantar e a dançar durante todo o caminho até o carro e, perplexo, o filho faz voto de silêncio.
Por mais quatro dias a cena se repete, até que o menino pede que a mãe volte a pegá-lo na porta de escola, de Fusca, pois seus colegas de classe o indagaram sobre o estranho comportamento dela e ele lhes contou a história, fazendo seus amigos rirem e desejarem que suas próprias mães lhes aplicassem castigos tão engraçados assim.
O mais importante foi que o garoto entendeu que aquele não se tratava de um castigo, mas que a mãe lhe dera uma lição, não apenas sobre materialismo, mas sobre a péssima tendência que temos a ver as coisas apenas pelo ângulo do que o mundo capitalista valoriza e nos esquecemos de pensar inocentemente como crianças, até mesmo quando ainda somos crianças.

22 de nov. de 2010

Invisível

Inspirada numa capa

Toda livraria que se preze, precisa ter uma cafeteria ao lado, pois há poucas coisas que combinem tão bem quanto um bom livro e um bom café. Talvez cerveja gelada e panceta do Mineiro seja outro bom exemplo combinatório, mas em outro contexto.
Pois bem, reambientando esta história, estava eu com a gula despertada pelo aroma inebriante da cafeteria vizinha, quando adentrei à Livraria Laselva apenas para olhar e então deparei-me com a suculenta capa cor de creme de Incrível, romance de Paul Auster.
Café com chantilly. Minha boca aguou.
Papel lombado, apetitoso. Título em baixo relevo. Eu precisava morder aquela capa.
Fui verificar o preço num daqueles aparelhos que lêem o código de barras. Estava quebrado. Fiquei sem ação. Por sorte, uma simpática atendente veio ao meu encontro e socorreu-me.
Consultou o preço no caixa enquanto eu babava e anunciou: R$ 49,90.
"Que chantilly caro, pensei". Chorei um desconto a vista e consegui arrematar a porção de creme por 39 reais.
Ela entregou-me um exemplar embalado.
Não apenas o plástico separava minha arcada dentária daquele item apetitoso, mas toda uma cadeia de convenções sociais e, mesmo que a contragosto - e também para não envergonhar o Fábio e o Léo que estavam comigo, confesso - contive-me.
Quando chegamos em casa, não resisti mais. Abri com sofreguidão a embalagem e cravei os dentes naquele objeto.
Salivante. Eu estava salivando e foi inebriante saciar o tosco desejo oral naquele instante e algo inevitável aconteceu. O livro preso em minha boca, acariciado pelos meus dentes, soltou aquele cheiro de papel novo e meu olfato despertou a minha fome de histórias.
Foi como quando a gente sente cheiro de pão quentinho e café coado.
Entreguei-me à leitura. Grata surpresa.
Tenho, desde então, sorvido a escrita de Auster em pequenas doses diárias, de modo a saboreá-la o máximo possível. Embora esteja gostando muito da história, da narrativa sobre um jovem estudante de literatura, às voltas com a luxúria, o passado, o idealismo, referências literárias e históricas e até um possível incesto, existe a possibilidade de que, no fim das contas, o enredo não deixe nenhuma marca em mim, mas, a minha marca, a marca da devoradora, sempre estará impressa na capa deste livro.

17 de set. de 2010

A vida íntima de Laura

Inspirada numa contação de histórias

Quando o Léo, meu primogênito, era pequeno - ele prefere que eu diga "quando era criança", pois no auge dos seus 12 anos, já se considera um adolescente, quase adulto, embora nunca cresça para mim... - eu lia para ele todas as noites, na esperança de despertar o gosto pela leitura nele.
Infelizmente, não funcionou muito. Ele não gosta de ler. Mas adora histórias. Especialmente se eu lê-las em voz alta para ele. Enfim, mas dentre tantas lidas, a minha preferida que passou a ser uma das preferidas dele também, foi resgatada do fundo do armário: A vida íntima de Laura.
Essa obra infantil de Clarice Lispector - que escreveu 5 livros infantis: O mistério do coelho pensante (1967); A mulher que matou os peixes (1968); A vida íntima de Laura (1974); e dois publicados postumamente, Quase de verdade (1978) e Como nasceram as estrelas (1987) - é tão maravilhosa que foi objeto de análise da minha monografia, além de ser material fantástico para trabalhar em sala de aula.
Pois bem, como eu vinha dizendo, tentando liberar espaço no armário para acomodar os presentes do Chicão, encontrei o livro - na verdade a versão em e-book da obra, a qual imprimi - e me emocionei.
Peguei o Chico em um braço e "Laura" no outro e, caminhando pela casa, fui narrando os pensamentozinhos e sentimentozinhos da personagem principal. Que delícia. O Francisco prestou atenção o tempo todo e, mesmo não tendo entendido bulhufas, tenho certeza de que o ritmo do texto clariciano o agradou.
Mas, você deve se perguntar, afinal, quem é Laura?
Primeiro é necessário explicar o que é vida íntima...
Segundo a própria Clarice, vida íntima é aquilo que acontece na casa da gente e não devemos contar para ninguém.
E, mesmo assim, ao longo das deliciosas páginas, Clarice vai nos contando tudo sobre a vida íntima da Laura.
Agora, quanto a quem é Laura, te dou um beijo na testa se adivinhar!!!
Disponibilizarei o e-book no meu 4shared.
Faça o download e descubra o mistério. É diversão de ótima qualidade garantida!

26 de ago. de 2010

1 mês

Inspirada num olhar e num beijo


O Francisco engorda na mesma proporção com que emagreço.
O Francisco cresce na mesma proporção com que minhas medidas diminuem.
O Francisco não dorme na mesma proporção com que minhas olheiras aumentam.

Mas, há um momento, aquele momento, em que seu olhar vem na direção do meu e seus lábios tocam minha pele, e então toda a exaustão é dissipada e a felicidade inunda todo meu ser e tudo que nos cerca...

15 de jul. de 2010

Maria Ruth


Inspirada numa redescoberta

Na adolescência, naquela fase em que não sabemos qual o nosso lugar e função no mundo, muitos se perdem em sexo, drogas e rock 'n roll e fogem para um mundo só deles.
Comigo não foi diferente, mas, diferente de muitos colegas, eu fugia para dentro dos livros.
Ficar lendo por horas e horas era muito mais fácil do que encarar a vida.
Um hábito saudável, certamente, mas, por vezes naquela época, minha leitura era mecânica. Eu era uma devoradora de histórias em quantidade e não qualidade, uma vez que nem todas eu internalizava.
Fui criada com quatro tias leitoras e, por essa razão, tive acesso aos mais variados títulos, desde as novelas românticas pseudo-pornográficas-literárias de séries como "Sabrina" e "Júlia", até a clássicos como "A Divina comédia" e "O morro dos ventos uivantes".
No turbilhão dessas leituras, no entanto, sinto que deixei escapar uma história, no mínimo, interessantíssima: "Maria Ruth", autobiografia de Ruth Escobar, que guardo até hoje.
Assistindo à série de homenagens às mulheres que a TV Cultura fez há algumas semanas, deliciei-me com uma reportagem sobre Ruth Escobar, com entrevistas com a própria e depoimento de grandes nomes das Artes Brasileiras.
Essa mulher, politicamente engajada, culturalmente produtiva, emocionalmente espancada,  sexualmente cerceada, representou o feminismo brasileiro nas mais diferentes frentes.
Ao lançar sua autobiografia "Maria Ruth", rompeu com o silêncio do cinto de castidade e inspirou algumas mulheres a romperem com seus cilícios também.
É por essas e outras que, em breve, pretendo redescobrir Ruth Escobar e todas suas rupturas.

6 de jul. de 2010

O quieto animal da esquina



Inspirada numa incongruência

Sempre apregoei e continuo afirmando que a beleza de uma obra está nos olhos e ouvidos de quem a vê, lê ou ouve e não na intenção do autor.
O conceito de "Arte" depende da interpretação do seu espectador.
Argumentado meu ponto de vista, que venha a história...
Tenho devorado e redevorado vários livros, de diferentes estilos e inúmeros autores, para manter meu corpo em repouso, na cama.
Algumas leituras são esquecidas assim que terminadas. Outras, me incitam a escrever.
Assim está sendo com "O quieto animal da esquina", obra de João Gilberto Noll.
Confesso minha ignorância. Eu nunca tinha ouvido falar nele. Nem bem, nem mal, então, iniciei a leitura sem influências.
Geralmente, gosto de iniciar leituras assim, pois posso ler sem rótulos, à minha maneira, desvendando a história página por página.
Com esse livro, no entanto, nada consegui desvendar.
Que merda.
O livro não tem sentido.
Não tem lógica.
São entrelinhas demais.
Não há desfecho, nem explicação.
Adoradores de Noll podem me acusar de necessitar de historinhas redondinhas, com início meio e fim. Tolos. O livro é ruim...
Adoro a subjetividade. Prova disso é que adoro Clarice Lispector sobre todos os outros.
O livro não tem nada. Usa um falso plano de fundo social, com uma citação dispersa sobre uma caminhada do MST, o fato da personagem principal ser um estuprador, que mora num prédio inacabado, invadido e que escreve poemas.
Até aí, ainda existe alguma história, mas então, ele é "adotado" por uma família, meio torta e fim.
Pode parecer que há uma coerência no relato do livro da maneira que estou explicando, mas só eu sei o esforço que fiz para tentar explicar a história que nem mesmo existe.
É isso. Noll não vale a pena ser lido.
Mas, reafirmo, a beleza da obra depende dos olhos de quem a lê.
Quem quiser perder tempo com o livro em questão, que o faça por sua conta e risco.

24 de jun. de 2010

Leite derramado

Inspirada num presente

Três dias. Demorei três dias para dar cabo da leitura de "Leite derramado", romance de Chico Buarque.
O livro foi presente do meu querido companheiro, Fábio Shiraga, a quem agradeço imensamente.
Cabe ressaltar que, no início do namoro, estávamos - Fábio e eu -, certa vez, ouvindo música e, às tantas, ele me indagou:
- Fá, o quanto você gosta do Chico Buarque?
De pronto, respondi:
- O suficiente para querer um filho chamado Francisco.
Quando, tempos depois eu engravidei e descobrimos que era menino, escolhemos o nome Francisco, sem nos lembrarmos dessa conversa, mas, há uns dois meses, lembramo-nos desse diálogo e agora, ao terminar a leitura desse instigante livro de Chico Buarque, só me resta afirmar que meu filho terá o nome de um gênio das letras.
Vontando à obra... A primeira vista pensa-se que o livro filosofará sobre a velha dita de "não chorar sobre o leite derramado". Não é bem isso.
O monólogo - sim, toda a história é um monólogo - conta a trajetória de Eulálio, um centenário, que passou pelas mais diversas situações - trágicas e cômicas - ao longo da vida e que as conta em voz alta, num leito de hospital.
A narrativa não é linear. A temporalidade se atropela e, aos poucos, vamos descobrindo o que há de verdade ou invenção no relato. Talvez chamar de invenção não seja apropriado, já que, durante a própria história, o narrador pede escusas porque a memória, às vezes, tende a enganá-lo.
Além do enredo bem amarrado, a narração faz um percurso corretíssimo sobre a história política brasileira, bem como sobre a sociedade carioca do início do século passado.
Ora se ri. Outras, se chora. Dúvidas surgem. Teorias se concretizam e Chico Buarque mostra que, na literatura, assim como na música, é um exímio manipulador de palavras.
Quanto ao leite derramado, há sim de se chorar sobre ele, quando o mesmo tiver que ser dispensado em uma pia de banheiro, por uma mãe que não pode mais amamentar.

1 de jun. de 2010

Flores de Plástico

Inspirada numa dedicatória

Pois é. Nem tudo são flores no reino da Dinamarca.
Uso desse velho ditado para me reportar às pequenas intempéreis do dia-a-dia, às gasturas, às rusgas que surgem dos relacionamentos interpessoais, sejam eles fraternos ou amorosos.
Há algum tempo ganhei de uma velha amiga um pequeno livro de pensamentos, mas nunca havia dedicado atenção a ele até esta tarde.
Tarde fria, monótona e como diz outro velho ditado, "mente ociosa é oficina do diabo", a minha mente divagou, não pelos caminhos por onde sempre divaga, mas por um terreno pedregoso e perigoso, tal qual o que a mente de Dom Quixote divagava e, assim como ele, transformei, por algumas horas, moinhos em gigantes inimigos, amigos em rivais, pessoas amadas em conspiradores.
Por sorte, mas não acaso, o pequeno livro, literalmente, caiu no meu colo do alto da prateleira e, apesar de a primeira reação ter sido a de atirá-lo longe, vislumbrei algo escrito na contracapa e reli a dedicatória que a querida amiga me fizera.
"Assim que vi o título deste livro, logo pensei em você. Não porque quero que você aprenda algo novo, não, não é isso! Quero que você resgate tudo isso que já existe aí dentro, original de fábrica! O meu objetivo é apoiá-la a ser quem sempre foi: esse ser extraordinário e fora do comum e dizer que é assim que amamos você!"
Desnecessário dizer que lágrimas banharam meu rosto e que meus pesamentos nada edificantes se esvaneceram.
Senti-me patética.
Avidamente devorei alguns capítulos do livro e encontrei até mesmo as soluções para os infundados pensamentos que haviam me assolado momentos antes.
Me dei conta de que, mesmo que alguns dos meus delírios viessem a tomar forma, todos seriam facilmente resolvidos. Bastava eu querer.
Mas, mais do que isso, percebi que, se eu temo tanto as situações que a minha mente demente projetou, depende de mim, e exclusivamente de mim, tomar as atitudes preventivas para que os moinhos de vento não se transformem em inimigos gigantes!
Além disso, as flores de plástico não são tão ruins pois, podem não ter cheiro, mas também nunca morrem.

25 de mai. de 2010

Nada se cria, tudo se copia

Inspirada numa foto

Descaradamente copiei a foto do blog do Sr. Meu Namorado, Fábio Shiraga e colei aqui.
Tudo porque meu cunhado e compadre, o talentosíssimo fotógrafo Nelson Shiraga, fez uma sessão de fotos nossa, para registrar o 6º mês do Francisco ainda no meu barrigão e enviou, até agora, essa única foto para o Fá.
De qualquer forma, é inevitável compartilhar nossa felicidade, na crença de que a alegria, assim como o amor, é contagiosa.
A propósito, a data prevista para o parto é 23/07/2010.

24 de mai. de 2010

Perguntas retóricas

Inspirada num tal de Carlos

Aproveitei que esta é minha primeira semana sem fisioterapia e o fato de ainda estar de repouso, para reorganizar meus ebooks.
Demorei um tempo considerável, afinal, são mais de mil títulos, mas ao término do labor, resolvi revisitar alguns dos meus autores preferidos e, de cara, me deparei com Drummond em toda sua simplicidade e sagacidade.


"Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração."

Li e reli seus versos e me perdi em devaneios, pois solução pode ser tanto um soluço grande, profundo, sentido, quanto a explicação mais óbvia para qualquer questionamento banal.
A partir desta reflexão, mergulhei em um mar de perguntas retóricas, as quais decidi reportar para não esquecer.

Por que os enfeites e acessórios para meninas são sempre rosa?

Por que alguns prefeitos foram reeleitos mesmo tendo feito um primeiro mandato tão ruim?

Por que engordar é visto com maus olhos?

Por que existe preservativo masculino com sabor e feminino não? Isso é preconceito. Só quem faz sexo com homem tem o direito a um saborzinho gostoso no ato sexual oral? Quem faz sexo oral com mulher não deveria ter o mesmo direito?

Por que temos que escolher entre Dilma e Serra se há outras opções?

Por que não se deve eliminar gases, tanto oralmente quanto analmente, fora do reservado banheiro?

Por que fazem propaganda das flores em relevo de determinada marca de papel higiênico?

Por que filho que perde a mãe é órfão, mas a mãe que perde o filho não tem nome?

Por que as mulheres não podem se dar ao desfrute de serem amantes de seus próprios maridos?

Por que não devemos tomar sorvete no inverno? O que causa gripe é um vírus e não o fato de o sorvete ser gelado.

Por que um livro não pode ser realmente bom - intelectualmente falando - só por que é um best seller? A mesma pergunta se aplica aos filmes blockbusters.

Por que não se pode gostar de Chico Buarque E Wando? Por que tem que ser um OU outro?

Por que temos que comer ou gostar de arroz?

Por que não ser diferente? Mas diferente mesmo, não só pertencendo a um grupo minoritário. Ou melhor. Por que temos que pertencer a grupos?

Por que a aparência estética tem tanta importância, profissionalmente falando?

Por que a reforma ortográfica da língua portuguesa não foi estendida a fim de solucionar os reais problemas da maioria dos letrados em português, como por exemplo: S sempre com som e grafia de S; Z sempre com som e grafia de Z; X sempre com som e grafia de X.

Por que o tal do Bruno da dupla Bruno & Marrone canta gemendo, como se estivesse entalado no banheiro?

Por que o marido não pode também ser o melhor amigo da esposa e vice-versa?

Por que pisar na grama para cortar caminho, se o caminho que não agride a plantinha só aumenta em dois minutos o trajeto?

Por que boas idéias que ocorrem durante o banho, ou no meio de alguma outra atividade na qual é impossível anotá-las e/ou compartilhá-las são, invariavelmente, esquecidas depois?

Por que o Corinthians, time de futebol sem títulos em campeonatos expressivos, tem tantos torcedores chatos e fanáticos?

Por que pagamos pedágio se, segundo a legislação, a manutenção de rodovias está prevista na finalidade do imposto sobre veículos automotivos, o famoso IPVA, e o imposto imbutido nos combustíveis que somos obrigados a pagar?

Por que as pessoas ainda assistem novelas que só retratam a vida dos ricos e bem sucedidos - amorosa e profissionalmente - e perdem a oportunidade de verem os ótimos programas da TV Cultura?

Por que a Virada Cultural Paulista não ocorre trimestralmente?

E por aí as perguntas vão seguindo.
Há outras, obviamente. Mais importantes, mais profundas, menos óbvias, menos redundantes... mas também há um limite para devaneios em um post e creio que já extrapolei esse limite há muitos parágrafos...

6 de abr. de 2010

94 A

Inspirada numa aquisição

"Quem casa, quer casa", já dizia o velho ditado.
Após meses de procura, divergências, contas, planos, sonhos, desatinos e decepções, foi em um final de semana chuvoso, porém quente, que enfrentaram o cansaço, a chuva, a fome, a ansiedade e a calculadora.
Depois de horas de expectativa, receberam o aval positivo e assinaram os papéis.
Foram parabenizados com efusivos apertos de mão e abraços apertados.
Um urro e um beijo, selaram a comemoração entre eles.
A parte mais fácil estava finalizada.
Agora enfrentariam vários leões por dia para vencerem a fase mais difícil: construir um lar na casa recém adquirida.

12 de mar. de 2010

O enigma da pedra

Inspirada num mistério

Mesmo depois de terminada a leitura, "O Enigma da Pedra", de Jim Dodge, continua enigmático para mim...
O Fábio ganhou o livro de presente do seu amigo Biajoni há algum tempo e me emprestou mês passado, porque eu estava reclamando, dizendo que queria ler algo diferente, que me prendesse e já comentava em comprar novos livros e, sabendo da minha compulsividade por comprar livros e da necessidade de economizarmos para o bebê que está por vir, ele lembrou-se desta obra e a ofereceu - como empréstimo por tempo indefinido - para mim.
A história da grávida, solteira, que foge de um centro de reabilitação para jovens meninas perdidas, de início, não me conquistou. Era muito parecida com outras tantas histórias muitas vezes lidas e até mesmo vivida, mas, com o desenrolar da trama, a ficção envolvendo ocultismo, alquimia, foras da lei e plutônio me fisgou.
Ansiava por desvendar as diferentes histórias que se desenvolviam ao redor da história de Daniel Pearse e me deliciava com as divagações filosóficas de Dodge.
Embora minha leitura tenha sido voraz, o término do livro só foi atingido ao final de três semanas.
Vale ressaltar que a obra tem várias páginas, sem desenhos, e letras pequenas, mas, o que retardou que eu desvendasse todo o enigma foi mesmo a densidade, complexidade e abrangência da história.
O "Enigma da Pedra" é um livro que vale a leitura.
Jim Dodge é um autor dedicado, preocupado com o leitor e o entendimento do leitor. Preocupado, talvez, um pouco demais, mas preciso ler outra obra dele para chegar a conclusão de que esta é uma característica do autor ou desta obra em questão.
Infelizmente, não encontrei o livro para download e, por essa razão, não posso disponibilizá-lo, mas, vale a busca em sebos ou bibliotecas e, para aguçar o interesse ou reforçar o desinteresse pelo livro, também vale ler a resenha que o Bia fez. http://www.verbeat.org/blogs/biajoni/2007/08/o-enigma-da-ped.html
No geral, o livro é bacana, vale a leitura, mas você não sentirá falta dele depois que desvendar o Enigma da Pedra.

9 de mar. de 2010

A primeira vez de um homem


Inspirada numa emoção

Há homens que amam a si mesmos.
Há outros que amam mulheres.
Há aqueles que amam outros homens.
Ou que não amam ninguém.
Há os que amam esportes.
Ou os que amam música, filmes, artes.
Há homens que são amados.
Outros são abandonados.
Mas também há homens que abandonam.
Há homens que adoram comida.
Outros, preferem bebida.
Mas, hoje, o assunto é um pequeno homem que ama carros...

Domingo nublado, tempinho frio.
O pequeno homem e o homem amado saem para dar uma volta.
- Posso dirigir?
- Você já dirigiu antes?
- Sou craque no jogo de corrida.
- Mas carro de verdade é diferente.
- Eu sei, mas já dirigi no colo do meu pai.
- Tá bom, deixo você dirigir lá no condomínio da sua tia, porque lá não tem perigo.

O banco é colocado para frente. O pequeno homem alcança os pedais sem problemas.
Cinto de segurança. Câmbio em ponto morto. A partida é dada.
O carro engasga. Morre.

- Não fica nervoso, vamos de novo.
Dessa vez, com poucos trancos, o carro começa a andar ligeiramente.

- Ai meu Deus. Que legal!
- Troca a marcha.
- Ai meu Deus. Tenho medo de trocar a marcha.
- Fique calmo que estou do seu lado.
- Acho que por hoje tá bom. Posso tentar de novo outro dia?
- Claro que pode. Você foi muito bem. Parabéns.

O pequeno homem ri.
Os olhos estão brilhando.
As mãos trêmulas transpiram.
O sorriso largo é contagiante.

Emocionada, a mãe aplaude.
Havia presenciado a primeira vez do seu pequeno homem e partilhado da sua emoção.

8 de mar. de 2010

FRANCISCO

Inspirada numa novidade

A maternidade me deixa mais sensível, nostálgica, carinhosa e com sentimentos e lembranças inconstantes.
Nesse emaranhado de emoções, lembrei-me de um exercício de português que fazíamos na escola, com o objetivo de ampliar e enriquecer o vocabulário: acróstico dos nomes.
É engraçado como há anos não me proponho a um exercício desses.
Em geral, o fazíamos com o nome de amigas(os), preenchendo cada letra do nome da pessoa com um adjetivo bajulador.
Era divertido.
Como acabamos de saber o sexo do nosso bebê, resolvi fazer o acróstico do seu nome, não com adjetivos, mas com a tentativa de estrututar um pouco da sua própria história. Francisco, o personagem que roubou a cena nesse dia internacional da mulher!

F ilho da Fá e do Fá

R iqueza do vô Helcio e da vó Jurema

A filhado do tio Ju e da tia Alê

N eto primogênito do vô Nelson e da vó Irene

C riança muito amada desde o ventre

I rmão do Léo

S obrinho do Marcelo, do Júnior, do Hugo e da Juliana

C o-sobrinho da Cinthia, da Alessandra e do Guerreiro

O rgulho da família e amigos


Chico, seja recebido com muito amor, carinho e boas energias por todos!

3 de mar. de 2010

Crônica de duas versões para uma mesma história


Inspirada numa proposta

A ansiedade e a angustia me consumiam desde às 6h30.
O Fábio dormia tranqüilamente ao meu lado na cama. Fiquei olhando as linhas do seu rosto, acompanhando sua respiração e imaginando como ele reagiria.
Às nove ele abriu olhos, me desejou bom dia e com um sorriso me perguntou:
- Fez xixi?
- Fiz - respondi sucintamente.
- E aí? – sentou-se na cama ao me inquirir.
Senti-me desconcertada. Que espécie de questionamento era aquele? Palavras tão ínfimas para questionar algo tão grandioso...
- E aí nada. – foi minha resposta automática.
Ele suspirou algo entre aliviado e inquieto e reinqueriu:
- Então deu negativo?
- Não. Deu positivo – respondi cabisbaixa.
- Deixa eu ver.
Levantei e peguei o exame de farmácia que eu havia guardado na bolsa.
Expliquei que, de acordo com as instruções, as duas listrinhas rosa significavam positivo.
Ele ficou olhando para o tubinho com o olhar perdido, depois me beijou nos lábios e voltou a deitar. Disse que se sentia tonto.
Eu ri. Nervosamente ri.
Estávamos em Serra Negra, na casa da mãe dele aproveitando o feriadão.
Ele foi ficando pálido.
Naquele momento, percebi a fragilidade dele e inspirando longamente, enchi-me de forças para iniciar aquela que julguei seria a conversa mais séria e densa que teríamos.
- Não se preocupe. Terei esse filho sozinha. Você tem seus planos, seus sonhos e metas e eu já abdiquei dos meus antes, posso muito bem protela-los mais uma vez. Sua vida não precisa mudar em nada.
Naquele momento descobri que a criatura ao meu lado era um homem e não um menino. Ele chorou. Reafirmou seu amor por mim e pelo bebê e disse que não existia aquilo de ele ou eu. Que éramos nós. Que aquele seria nosso filho. Que faríamos nossos planos, nossas metas. Que aquela era a nossa vida.
Um beijo selou nosso compromisso de nos tornarmos um.
Eu estava em pânico. Ele me confortava, claro, mas o medo de decepcionar meus pais mais uma vez me consumia.
Por decisão-imposição minha, combinamos que só contaríamos depois do Natal.
Passei por uma consulta médica naquela semana e meu ginecologista confirmou a gravidez, mas, por garantia, pediu o exame de sangue.
Decidi protelar o máximo possível e só realizar o teste para contar aos nossos pais. Faltavam uns 20 dias pro Natal, mas o Fábio já estava tendo crises de ansiedade e perdendo o sono.
Comecei a ter enjôos e ele, tomando as rédeas da situação me comunicou:
- Sexta vamos contar para todo mundo da nossa gravidez.
Nossa Gravidez. Aquela idéia de que ele estava grávido junto comigo me entorpeceu e concordei com sua decisão porque não tinha argumentos, nem vontade, para discordar.
E assim se fez.
O Fábio tem uma versão um tantinho mais romantizada e dramática que a minha para o início da nossa história familiar, mas, em sumas palavras, o temor, a emoção, a alegria e o torpor foram os mesmos.

25 de fev. de 2010

O grande Mentecapto

Inspirada numa leitura

Terminei a leitura desta obra há algum tempo, mas, a falta de tempo impossibilitou que eu comentasse sobre este grande livro antes.
O grande Mentecapto, de Fernando Sabino, narra as desventuras de Geraldo Viramundo pelas bandas de Minas Gerais e é um convite ao despertar do espírito aventureiro infantil e adolescente, que há em cada um de nós.
Sabino brinda o leitor com sua ironia, de quem conhece a fundo as histórias de Minas, os trejeitos e os maneirismos do seu povo, além da inesquecível culinária mineira.
Brincando com personagens verídicos, Sabino nos premia com citações magníficas, em mais de um idioma e nos leva a repensar sobre nossas atitudes diante da rotina do dia-a-dia e das misérias particulares e alheias.
O Grande Mentecapto conta as histórias de Geraldo Viramundo, uma criança feliz e imaginativa que acredita poder fazer o trem parar fora de sua estação.
A partir daí sua vida muda completamente de rumo transformando o mentecapto em um nômade, andarilho, herói, sábio.
O livro vale a leitura, pois a escrita de Sabino é ágil e o mentecapto é apaixonante, contudo, tive a impressão de que, no último capítulo, o autor havia já se cansado da história ou do seu personagem e a fluência do livro é interrompida com um final seco que não condiz com a exuberância literária do livro todo.
Mas é uma história que merece ser devorada e, talvez, abandonada no penúltimo capítulo, de forma que o leitor possa criar seu próprio final.

24 de fev. de 2010

Justificativa

Inspirada num projeto  

Como dizia minha amada e idolatrada Clarice:
"NÃO TENHO TEMPO PARA MAIS NADA. SER FELIZ ME CONSOME MUITO"...
No entanto, seria injustiça atribuir a pausa nas minhas postagens à minha nova e importante condição de grávida e esposa.
Cabe ressaltar que a vida a dois, assim como os preparativos para a chegada do bebê, tem tomado muito do meu tempo, mas, o que atrapalhou minha programação de posts foi um novo e ambicioso projeto.
Durante a pesquisa para o desenvolvimento da idéia, redescobri um autor, que está sempre presente em meus escritos e que é comumente citado: Oscar Wilde.
Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde (Dublin, 16 de outubro de 1854 — Paris, 30 de novembro de 1900) foi um escritor irlandês. Criado numa família protestante, estudou na Portora Royal School de Enniskillen e no Trinity College de Dublin, onde sobressaiu como latinista e helenista. Ganhou depois uma bolsa de estudos para o Magdalene College de Oxford.
Wilde saiu de Oxford em 1878. Um pouco antes havia ganhado o prêmio "Newdigate" com o poema "Ravenna". Passou a morar em Londres e começou a ter uma vida social bastante agitada, sendo logo caracterizado pelas atitudes extravagantes.
Foi convidado para ir aos Estados Unidos a fim de dar uma série de palestras sobre o movimento estético por ele fundado, o esteticismo, ou dandismo, que defendia, a partir de fundamentos históricos, o belo como antídoto para os horrores da sociedade industrial, sendo ele mesmo um dandi.
Em 1883, vai para Paris e entra para o mundo literário local, o que o leva a abandonar seu movimento estético. Volta para a Inglaterra e casa-se com Constance Lloyd, filha de um rico advogado de Dublin, indo morar em Chelsea, um bairro de artistas londrinos. Com Constance teve dois filhos, Cyril, em 1885 e Vyvyan, em 1886. O melhor período intelectual de Oscar Wilde é o que vai de 1887 a 1895.
Em 1892, começa uma série de bem sucedidas comédias, hoje clássicos da dramaturgia britânica: O Leque de Lady Windernere (1892), Uma mulher sem importância (1893), Um marido ideal e A importância de ser fervoroso (ambas de 1895). Nesta última, o ar cômico começa pelo título ambíguo: Earnest, "fervoroso" em inglês, tem o mesmo som de Ernest, nome próprio
Publica contos como O Príncipe Feliz e O Rouxinol e a Rosa, que escrevera para os seus filhos, e O crime de Lord Artur Saville.
A situação financeira de Wilde começou a melhorar cada vez mais, e, com ela, conquista uma fama cada vez maior. O sucesso literário foi acompanhado de uma vida cada vez mais mundana. Suas atitudes tornaram-se cada vez mais excêntricas. Abandonou a família e passou a ter casos homossexuais, regados por bebedeiras.
Oscar Wilde, em maio de 1895, após três julgamentos, foi condenado a dois anos de prisão, com trabalhos forçados, por "cometer atos imorais com diversos rapazes". Wilde escreveu uma denúncia contra um jovem chamado Bosie, publicada no livro De Profundis, acusando-o de tê-lo arruinado. Bosie era o apelido de Lorde Alfred Douglas, um dos homens de que se suspeitava que Wilde fosse amante. Foi o pai de Bosie, o Marquês de Queensberry, que levou Oscar Wilde ao tribunal. No terrível período da prisão, Wilde redigiu uma longa carta a Douglas.
A imaginação como fruto do amor é uma das armas que Wilde utiliza para conseguir sobreviver nas condições terríveis da prisão. Apesar das críticas severas a Douglas, ele ainda alimenta o amor dentro de si como estratégia de sobrevivência. A imaginação, a beleza e a arte estão presentes na obra de Wilde.
Após a condenação a vida mudou radicalmente e o talentoso escritor viu, no cárcere, serem consumidas a saúde e a reputação. No presídio, o autor de Salomé (1893) produziu, entre outros escritos, De Profundis, o clássico anarquista, A alma do homem sob o socialismo e a célebre Balada do cárcere de Reading.
Foi libertado em 19 de maio de 1897. Poucos amigos o esperavam na saída, entre eles o maior, Robert Ross.
Passou a morar em Paris e a usar o pseudônimo Sebastian Melmoth. As roupas tornaram-se mais simples, e o escritor morava em um lugar humilde, de apenas dois quartos. A produtividade literária foi pequena.
O fato histórico de seu sucesso ter sido arruinado pelo Lord Alfred Douglas (Bosie) tornou-lhe ainda mais culto e filosófico, sempre defendendo o amor que não ousa dizer o nome, definição sobre a homossexualidade, como forma de mais perfeita afeição e amor.
Oscar Wilde morreu de um violento ataque de meningite (agravado pelo álcool e pela sífilis) às 9h50min do dia 30 de novembro de 1900.
Em seu leito de morte Oscar Wilde foi aceito pela Santa Igreja Católica Romana e Robert Ross, em sua carta para More Adey (datada de 14 de Dezembro de 1900), disse "Ele estava consciente de que havia pessoas presentes, e levantou sua mão quando pedi, mostrando entendimento. Ele apertou nossas mãos. Eu então fui enviado em busca de um padre, e depois de grande dificuldade encontrei o Padre Cuthbert Dunne, que foi comigo e administrou o Batismo e a Extrema Unção - Oscar não pode tomar a Eucaristia".
Wilde foi enterrado no Cemitério de Bagneux fora de Paris, porém mais tarde foi movido para o Cemitério de Père Lachaise em Paris. Sua tumba em Père Lachaise foi feita pelo escultor Sir Jacob Epstein, a requisição de Robert Ross, que também pediu um pequeno compartimento para seus próprios restos. Seus restos foram transferidos para a tumba em 1950.
Wilde foi grande porque conseguiu escrever para todos, com as formas de expressão em palavras, embora tenha sido menos conhecido em algumas delas.
Em seu único romance, O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde trata da arte, da vaidade e das manipulações humanas. Aliás, é considerado por muitos de seus leitores, como a maior obra-prima, sendo rica em diálogos.
Já em novelas escritas por ele, como a maioria de todos seus escritos, Wilde criticava o patriotismo da sociedade. Isso fica claro na novela O Fantasma de Canterville.
Em seus contos infantis sempre tratou da criança que vive em cada um de nós, com lições de moral na mais bela e pura forma com linguagens simples.
No teatro, escreveu nove dramas, que inclusive fizeram sucesso na época.
Wilde poeta usou a poesia, simplesmente talvez, para ampliar a sensibilidade para as artes, embora não seja muito conhecido nesse campo.

23 de jan. de 2010

Cerebelo









Inspirada num impulso cerebral


Fábio Shiraga, além de ser o homem que eu amo por mil e tantas razões, é expert em música.
Sempre me apresenta coisas novas.
Algumas, não tão interessantes para meu arisco gosto musical, deixo cair no limbo do esquecimento, mas há outras que simplesmente me fascinam.
O som do grupo paulistano Cérebro Eletrônico, por exemplo, me conquistou, em especial a música "Pareço moderno".
Sempre gostei mais de letra do que de melodia e me identifiquei muitíssimo com a letra desta música, que, além de tudo, tem uma melodia deliciosa.
Outra canção deste mesmo grupo muito bacana, que me faz rir e cantarolar é a música .
Vale a pena curtir o som da banda e dar uma lida nas letras. 

Pareço Moderno - Cérebro Eletrônico
Composição: Tatá Aeroplano

Gosto de cinema, ponto
vivo cheio de manias
tenho uma certa ... pré-dislexia
Às vezes eu surto mesmo
mudo de assunto
sumo e não assumo
a minha lucidez
Pareço moderno a te procurar
Caio na balada, admito
Alimento meu espírito
com litros de café e saio pra dançar
Sempre quando acordo cedo
crio uma canção maluca
ligada ao sonho e ao Ménage a Trois
Pareço moderno a te procurar
Toda vez que eu a encontro
perco o chão, fico sem jeito
quero trucida-la a esmo
e não partirei enquanto não conseguir meu feito
Sei que pego mal contigo
minha nóia eu não escondo 
Sérgio Sampaio vai chegar pra lhe dizer
que eu, que eu, que eu
Pareço moderno,
pareço Roberto a te procurar


Dê - Cérebro Eletrônico
Composição: Letra: Tatá Aeroplano / Música: Fernando Maranho e Tatá Aeroplano


Dê amor
Dê paixão
Dê espera
Dê esperma
Dê prazer
Dê fogo
Dê uma nela
De carinho
De sacanagem
De sarro
De fato
Dê amor
Dê segurança
De anca na anca dela
E amanheça de cabeça dentro dela

21 de jan. de 2010

Ela e outras mulheres


Inspirada numa reportagem

Ao ler uma crítica à conduta do escritor Rubem Fonseca, na época da ditadura, a qual, entre outras coisas, o denunciava como colaborador do Ipes - grupo responsável por censurar a produção cultural - lembrei-me que há alguns anos, na sala de espera de um consultório, li na sessão de Livros da "Veja", uma resenha sobre um livro de contos deste mesmo autor, intutilado "Ela e outras mulheres".
A matéria o apontava como "velho safado", uma vez que os contos do livro tinham uma veia erótica latente. São vinte e sete narrativas que têm um denominador comum, que se adivinha no título: as mulheres. Embora nem todas ocupem o lugar de protagonistas, a verdade é que todas desempenham um papel fulcral para o desenrolar das histórias. Não é, aliás, por acaso, que todos os contos têm por título nomes de mulheres com exceção do conto “Ela”, referido no título da obra.
O universo literário de Rubem Fonseca – algumas histórias policiais, frequentes ambientes negros, muitas personagens violentas e ligadas ao crime e sexo em doses consideráveis – está todo neste volume. É notável a forma como, em textos tão curtos (contos com menos de dez páginas), o autor consegue dar um panorama tão vasto sobre uma certa vivência urbana da sociedade brasileira contemporânea. E se é certo que esta não é uma obra-prima, não deixa de ser também verdade que é uma excelente montra sobre a produção de Rubem Fonseca.
Ao me lembrar do livro, revivi a sensação, não sem sorrir, de fechar o livro - porque ficava enrubescida - sempre que alguém entrava no quarto ou na sala, enquanto estava lendo. A leitura era picante, instigante.
Nunca julguei a revista "Veja" indispensável, já na época a considerava tendenciosa e hipócrita, mas, aquela resenha, me abriu os olhos para uma literatura que, até então, me era desconhecida.
Agora, lia que esse mesmo autor fora censor na ditadura.
Como era possível?
Alguém que escrevia o que ele escrevia, como ele escrevia, deve ter tido uma boa razão para que, mesmo em um curto espaço de tempo, tenha trabalhado com a corja censora.
Pesquisando mais sobre o autor e sua obra, encontrei o conto "Alice", uma total falta de hipocrisia, mas de machismo absoluto, outra razão para injustificar a forma como a tal revista o acusa agora.
O duro, é que a mesma revista que me fez descobrir esse autor brilhante, lança uma caça às bruxas tendo Rubem Fonseca como alvo principal.
Controverso.
Ao meu ver, mais uma prova de que a revista "Veja" dança conforme a música. E a música da vez é o denuncionismo que visa influenciar-nos a desviar os olhos de outras questões mais importantes.
"Veja" continua dispensável.

13 de jan. de 2010

A lição


Inspirada numa brincadeira

Já era alta madrugada quando forçaram a porta da frente.
Apurou os ouvidos.
Fechadura mexida novamente.
A chuva apertava lá fora.
Ouviu leves batidas à porta.
Puxou mais as cobertas.
Passos circundavam a casa.
No silêncio do quarto escuro, sorriu.
Leves batidas na sua janela.
Prendeu a respiração.
O brilho de um raio encheu o quarto.
Em seguida, o trovão.
Batidas um  pouco mais fortes na sua janela.
Uma voz sussurra:
- Amor, me deixa entrar. Por favor. Tá chovendo gelado.
Ela riu.
Havia avisado que o Habeas Corpus só era válido até meia noite.
Eram mais de três.
- Amor, eu imploro, me deixa entrar ou vou começar a gritar e acordar as crianças.
Pé ante pé ela foi até o quarto dos filhos e com eles se deitou, tomando o cuidado de fechar bem a porta do quarto.
O marido teria que curar a ressaca sozinho. Na chuva.

11 de jan. de 2010

Fim do mundo


Inspirada numa canção

Ao ouvir a coletânea que gravara para o homem que amava, ela atentou-se para uma música, dentre tantas, que naquele momento sobressaiu-lhe aos ouvidos.
A canção, de um dos seus compositores favoritos, Paulinho Moska - que, entre outras canções fabulosas, é o autor de uma das suas favoritas, "Um e Outro", pouco conhecida, mas que tocava seu coração como poucas - falava sobre o fim do mundo.
O que faríamos se nós restasse um dia?
Quais seriam nossas prioridades?
Seríamos politicamente corretos?
Ou avacalharíamos com tudo?
Qual a nossa verdadeira índole?
Acreditamos realmente no pós vida?
Remoendo sobre essas questões, não conseguiu chegar a nenhuma conclusão e só lhe restou continuar ouvindo "O último dia".

Meu amor

O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?


Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia?
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia?


Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?


Corria pr'um shopping center
Ou para uma academia?
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia?

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?

Andava pelado na chuva?
Corria no meio da rua?
Entrava de roupa no mar?
Trepava sem camisinha?


Meu amor
O que você faria, hein?
O que você faria?

Abria a porta do hospício?
Trancava a da delegacia?
Dinamitava o meu carro?
Parava o tráfego e ria?


Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?


Meu amor
O que você faria?
O que você faria?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria
Me diz o que você faria

8 de jan. de 2010

Bendito fruto



Inspirada numa imagem


A noite mal dormida fora conseqüência da ansiedade, mas, a despeito do cansaço físico e mental estava bem. Sentia-se feliz.
Levantou antes do relógio despertar.
Depois de uma ducha rápida, sentou-se nua na cama e acariciou o ventre.
Balbuciou uma canção de ninar enquanto espalhava o hidratante pelo corpo.
Sua respiração estava calma, sua mente estava tranquila.
No horário adequado, ela e o homem a quem amava foram ao consultório.
Sala de espera cheia. Tinham hora marcada, mas precisaram pegar senha e aguardar.
Quarenta minutos depois foram chamados à sala.
Ambiente na penumbra, silencioso, a atendente fez as perguntas de praxe e pediu que ela se sentasse.
Com um ligeiro sorriso a médica se apresentou e ligou a máquina.
Os batimentos cardíacos dela se elevaram.
Uma imagem disforme surgiu na tela.
Um som forte encheu o ambiente.
- Esse é o coraçãozinho do seu bebê.
Ela e o amado apertaram-se as mãos.
Estavam vendo o filho pela primeira vez.
A mãozinha estava sobre o nariz.
As pernas, cruzadas para cima.
A cabeça bem redondinha.
E o coração.
O pequeno coração batia com uma velocidade incrível e seu som era um deleite para os ouvidos dos seus pais.
Apaixonaram-se.
O carinho, o amor já existiam, isso era claro, mas, a verdadeira entrega, a paixão de pai pra filho surgiu naquele momento.
Data prevista para o parto: 27 de julho.
Só faltavam mais 7 meses para abraçarem e beijarem a Isabel ou o Francisco.