28 de dez. de 2009

O homem que eu amo


Inspirada num comentário

Detesto ser chamada de "Fabi". E o homem que eu amo sabe disso.
Também detesto pessoas que sempre citam "Los Hermanos", como se eles fossem o ápice da intelectualidade. Não são. Não gosto de "Los Hermanos".
O homem que eu amo sabe que, do nosso amor, a gente é que sabe. Os outros são os outros e só.
Gosto do mundo realmente intelectual e amo literatura e como o homem que eu amo sabe disso, me presenteou com o maravilhoso "Clarice,".
O homem que eu amo tem só 28 dentes. Ainda bem. Não confio em ninguém com mais de 30.
O homem que eu amo tem uma deliciosa extravagância: faz amor comigo quantas vezes eu quiser.
Ele ri escandalosamente. Aliás, a gargalhada do homem que eu amo é uma das coisas mais gostosas deste mundo.
O homem que eu amo coleciona CD's. Tem mais de mil.
Que bom.
Coleciono livros. Tenho menos de mil, mas, ainda assim, nenhum de nós pode reclamar dos excessos do outro.
O homem que eu amo fala sem parar. Sobre tudo. Até dormindo. Mas, não ronca.
Ele lê pra mim. Interpreta pra mim. Toca e canta pra mim.
O homem que eu amo abre a porta do carro para eu entrar. E me entrega as chaves para eu dirigir quando bebe.
O homem que eu amo fala inglês e se diverte porque eu falo russo.
Ele fica horas procurando um Blues chorão, do jeito que eu gosto, só para me agradar. Aí, ele se deita comigo e, de mãos entrelaçadas, ficamos nos adivinhando na penumbra, curtindo o som da gaita.
O homem que eu amo me deixou escolher o lado da cama, mas sempre rouba comida do meu prato.
O homem que eu amo me contou seus deslizes amorosos do passado.
Sei, inclusive, tudo sobre a casada e cretina, que o usou.
Aliás, cretina, além de ser um adjetivo feminino sinônimo de imbecil, quando derivada de cretinismo - que é uma doença crônica, causada pela insuficiência da glândula tireóide, o que pode explicar a obesidade - é a palavra que designa a pessoa enferma.
O homem que eu amo está com sobrepeso. Sua barriguinha, cultivada pelos anos de cervejadas em botecos, é um charme à parte.
O homem que eu amo sabe que eu sou brava e que não levo desaforo para casa e às vezes, só às vezes, fica incomodado com meus desatinos e, em particular, chama minha atenção como o pai faz com a criança arteira.
O homem que eu amo usa óculos. Eu também uso óculos. E nossas lentes ficam embaçadas quando nos beijamos.
O homem que eu amo não é só carne. Ele tem a alma mais linda do mundo.
Ele comemora seu aniversário no asilo, presenteando os velhinhos, passando horas super agradáveis com os que tem muito para nos ensinar.
O homem que eu amo é calmo, gentil e sofisticado. Sou nervosa, estúpida e relaxada. Ainda bem que os opostos se atraem.
O homem que eu amo também é um homem de fé, mesmo não se prendendo à religião nenhuma.
O homem que eu amo operou um milagre em mim e, contrariando todas as previsões, me fez mãe de novo.
Ele é o responsável pela aura de felicidade que me circunda novamente.
O homem que eu amo tem uma paciência de Jó, porque continua me amando mesmo eu sendo tão difícil.
O homem que eu amo é mais que meu marido, amado e amante. O homem que eu amo é meu amigo. Meu melhor amigo. Mas já lhe perguntaram se eu era sua filha e ele ficou grilado e eu dei risada.
O homem que eu amo tem algumas manias. Está sempre lavando as mãos, dirige lenta e cuidadosamente e dá uma risadinha curta quando algo o incomoda.
Ele joga tênis, é amigo do Léo e ia casar com a Lia. Mas ela ainda tem só três anos, então, até ela ter idade para casar, ele já pode estar viúvo, porque, enquanto a minha saúde é frágil, o homem que eu amo goza de ótima saúde.
O homem que eu amo sabe tudo o que é essencial sobre mim e isso é engraçado.
Nos conhecemos há tão pouco tempo nesta vida que a única explicação para nossa sintonia é o conhecimento adquirido ao longo de várias outras vidas.
O homem que eu amo é o homem que eu amo há milênios. Disso não tenho dúvidas.
Amo o homem que eu amo porque o admiro e porque ele tem todas as coisas, que um dia eu sonhei pra mim.
A cabeça cheia de problemas. Não me importo, eu gosto mesmo assim.
O homem que eu amo tem os olhos cheios de esperança, de um formato que mais ninguém possui.
Me traz meu passado e as lembranças, coisas que eu quis ser e não fui.
E eu que sempre fui tão inconstante, juro, para o homem que eu amo, que agora é pra valer.
Ele vai seguir comigo o meu caminho e viveremos a vida só de amor.
O homem que eu amo sabe que estou parafraseando Roberto Carlos, porque essa é a canção que ele canta para mim.

Futebol e Cultura Pop


Inspirada numa idiotice



Amavam-se, apesar das diferenças.
Ela, fanática por futebol.
Ele, fiel seguidor da Cultura Pop.
Aos domingos, ela assistia uma partida de futebol, enquanto ele navegava pelo vasto mundo Pop do Twitter.
Viviam tranquilamente assim.
O casamento era harmônico... até que um dia...
O time do coração dela deixou o campeonato escapar pelo vão dos dedos.
Ficou estressada.
Ele, alheio à batalha campal, lia avidamente uma entrevista "interessantíssima" de Mallu Magalhães.
Ficou empolgado.
- Amor, posso ler a entrevista da Mallu pra você?
- Agora?
- É. Já acabou o jogo.
- Não to com saco para as futilidades dessa menina.
- Mallu não é fútil. Ela tem várias referências. Conhece muitas coisas.
- Eu a acho enfadonha. As letras dela são pobres.
- Pobre é a cultura futebolística.
- Se a cultura pop tivesse a mesma organização do futebol, não estaria fadada a admirar criaturas idiotas como Mallu Magalhães.
- Ela não é idiota.
- Não? Então, idiota é você.
- Idiota é quem fica vendo 22 marmanjos correndo atrás de uma bola.
- Você é tão idiota. 20 correm atrás da bola, dois ficam nos gols.
- Que seja. Mas a Mallu não é idiota.
Uma cadeira virada e uma porta batida colocaram fim à discussão.
Afastaram-se por alguns momentos para que esfriassem a cabeça.
Quando reataram, fizeram o pacto:
- Nunca mais falaremos sobre futebol e cultura pop dentro de casa.
Depois de selado o acordo, o casamento só durou mais três meses.
Todo o amor que sentiam não foi suficiente para vencer o silêncio gerado pela falta de assunto.