2 de mai. de 2009

Canteiros

Inspirada num poema


Tem um cantor/compositor brasileiro um tanto marginalizado, de nome Raimundo, que é o cara que musicou alguns dos mais belos poemas já escritos.

Tudo bem que as borbulhas de amor o denigrem, mas, "Canteiros" é um dos exemplos de sua genialidade...

Inspirada no poema "Marcha" http://www.cin.ufpe.br/~ago/poesias/cmeireles de Cecília Meireles essa música é, para mim, uma das mais belas representações do sentido da vida.

Sutilmente nos indica o caminho, nos fazendo seguir em frente apesar das dores passadas, nos dizendo para transformar o sentimento de perda em saudades. Lembrando-nos de fechar os olhos para olharmos dentro de nós mesmos.



Canteiros,
Raimundo Fagner.

Quando penso em você

Fecho os olhos de saudade

Tenho tido muita coisa

Menos a felicidade

Correm os meus dedos longos

Em versos tristes que invento

Nem aquilo a que me entrego

Já me dá contentamento

Pode ser até manhã

Sendo claro, feito o dia

Mas nada do que me dizem

me faz sentir alegria

Eu só queria ter do mato

Um gosto de framboesa

Pra correr entre os canteiros

E esconder minha tristeza

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...

E deixemos de coisa, cuidemos da vida

Senão chega a morte

Ou coisa parecida

E nos arrasta moço

Sem ter visto a vida

Fanatismo

Inspirada numa canção

Recebi duras críticas e reprimendas de que minhas últimas postagens tinham um teor muito religioso, com críticas veladas ao catolicismo. Não faço críticas veladas, critico abertamente mesmo, mas, não fico presa à críticas vazias, apresento dados e exponho fatos com a intenção de dar ferramentas para que os demais possam pensar por si mesmos e chegar à suas próprias conclusões.

Minha crítica é contra a intolerância e o fanatismo, mas, deu com os burros n'água quem pensou, baseado no título, que mais uma vez, ficarei falando de religião...

O assunto da vez é muito mais interessante: Florbela Espanca.

A primeira vez que ouvi esse nome fui tomada por um estranhamento... achei que se tratava de algum pseudônimo ou algo do gênero. Ledo engano.

Florbela d'Alma da Conceição Espanca. Poesia no nome e na vida. Lirismo triste despetalado em afetos e amores despedaçados em casamentos. Desejos floridos a peles, invernando ardentes carinhos irmanados a melancolias de profundas raízes. Corolário de anseios e dúvidas. Crisântemo de cruciante sentimento, aberto em solário de roxidões imensas – uma beleza de alegrias amarelecidas com palores outonais de páginas esquecidas em longes livros desvividos de romances. Música de palavras embaladas no lamento de voz perdida em alamedas áridas de consolo. Solidões noturnas e lutuosas em pálpebras descidas às pétalas de sonhos sepultadas ao céu aberto da desesperança. Julieta alentejana sem Romeu, longe de Verona. Flor da vida e flor da morte. Florbela D’Alma, renascida de si mesma nas dores sementeiras de elegíacos jardins veronais. Conceição de crisântemos que desabrocham tristezas sobre tristezas em refluxos de violeta cor. Espanca, ó Flor, o sentimento que fustiga de dor o pólen dourado de seu verbo para verter o ouro da chaga de seu verso.


Fagner canta Florbela:

Fanatismo
por Florbela Espanca

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”

Abril

Inspirada numa escolha

Passou abril em branco.
Estagnada no vértice de uma dessas encruzilhadas da vida, não deu um único passo.
Ficou em pé, esperando um sinal.
Olhava para todos os lados e espreitava o horizonte.
Ninguém voltou para lhe ensinar o caminho.
Cansou de esperar.
Enxugou as lágrimas de crocodilo e deu alguns passos para trás para ter uma visão mais ampla.
Finalmente, por sua conta e risco, fez uma escolha.

"Diante de dois caminhos o melhor a se fazer é seguir um deles, o mais depressa possível. Não conjecturar demais. É tudo questão de arriscar-se ou não. Se ficar parado, o bode te alcança e faz de você sua cabrita de estimação..."
Foi uma cabrita durante todo o mês de abril.
Agora chega.

Por essa conclusão é que esta é uma histórica curta, sobre um tempo perdido e jamais recuperado.