23 de jan. de 2010

Cerebelo









Inspirada num impulso cerebral


Fábio Shiraga, além de ser o homem que eu amo por mil e tantas razões, é expert em música.
Sempre me apresenta coisas novas.
Algumas, não tão interessantes para meu arisco gosto musical, deixo cair no limbo do esquecimento, mas há outras que simplesmente me fascinam.
O som do grupo paulistano Cérebro Eletrônico, por exemplo, me conquistou, em especial a música "Pareço moderno".
Sempre gostei mais de letra do que de melodia e me identifiquei muitíssimo com a letra desta música, que, além de tudo, tem uma melodia deliciosa.
Outra canção deste mesmo grupo muito bacana, que me faz rir e cantarolar é a música .
Vale a pena curtir o som da banda e dar uma lida nas letras. 

Pareço Moderno - Cérebro Eletrônico
Composição: Tatá Aeroplano

Gosto de cinema, ponto
vivo cheio de manias
tenho uma certa ... pré-dislexia
Às vezes eu surto mesmo
mudo de assunto
sumo e não assumo
a minha lucidez
Pareço moderno a te procurar
Caio na balada, admito
Alimento meu espírito
com litros de café e saio pra dançar
Sempre quando acordo cedo
crio uma canção maluca
ligada ao sonho e ao Ménage a Trois
Pareço moderno a te procurar
Toda vez que eu a encontro
perco o chão, fico sem jeito
quero trucida-la a esmo
e não partirei enquanto não conseguir meu feito
Sei que pego mal contigo
minha nóia eu não escondo 
Sérgio Sampaio vai chegar pra lhe dizer
que eu, que eu, que eu
Pareço moderno,
pareço Roberto a te procurar


Dê - Cérebro Eletrônico
Composição: Letra: Tatá Aeroplano / Música: Fernando Maranho e Tatá Aeroplano


Dê amor
Dê paixão
Dê espera
Dê esperma
Dê prazer
Dê fogo
Dê uma nela
De carinho
De sacanagem
De sarro
De fato
Dê amor
Dê segurança
De anca na anca dela
E amanheça de cabeça dentro dela

21 de jan. de 2010

Ela e outras mulheres


Inspirada numa reportagem

Ao ler uma crítica à conduta do escritor Rubem Fonseca, na época da ditadura, a qual, entre outras coisas, o denunciava como colaborador do Ipes - grupo responsável por censurar a produção cultural - lembrei-me que há alguns anos, na sala de espera de um consultório, li na sessão de Livros da "Veja", uma resenha sobre um livro de contos deste mesmo autor, intutilado "Ela e outras mulheres".
A matéria o apontava como "velho safado", uma vez que os contos do livro tinham uma veia erótica latente. São vinte e sete narrativas que têm um denominador comum, que se adivinha no título: as mulheres. Embora nem todas ocupem o lugar de protagonistas, a verdade é que todas desempenham um papel fulcral para o desenrolar das histórias. Não é, aliás, por acaso, que todos os contos têm por título nomes de mulheres com exceção do conto “Ela”, referido no título da obra.
O universo literário de Rubem Fonseca – algumas histórias policiais, frequentes ambientes negros, muitas personagens violentas e ligadas ao crime e sexo em doses consideráveis – está todo neste volume. É notável a forma como, em textos tão curtos (contos com menos de dez páginas), o autor consegue dar um panorama tão vasto sobre uma certa vivência urbana da sociedade brasileira contemporânea. E se é certo que esta não é uma obra-prima, não deixa de ser também verdade que é uma excelente montra sobre a produção de Rubem Fonseca.
Ao me lembrar do livro, revivi a sensação, não sem sorrir, de fechar o livro - porque ficava enrubescida - sempre que alguém entrava no quarto ou na sala, enquanto estava lendo. A leitura era picante, instigante.
Nunca julguei a revista "Veja" indispensável, já na época a considerava tendenciosa e hipócrita, mas, aquela resenha, me abriu os olhos para uma literatura que, até então, me era desconhecida.
Agora, lia que esse mesmo autor fora censor na ditadura.
Como era possível?
Alguém que escrevia o que ele escrevia, como ele escrevia, deve ter tido uma boa razão para que, mesmo em um curto espaço de tempo, tenha trabalhado com a corja censora.
Pesquisando mais sobre o autor e sua obra, encontrei o conto "Alice", uma total falta de hipocrisia, mas de machismo absoluto, outra razão para injustificar a forma como a tal revista o acusa agora.
O duro, é que a mesma revista que me fez descobrir esse autor brilhante, lança uma caça às bruxas tendo Rubem Fonseca como alvo principal.
Controverso.
Ao meu ver, mais uma prova de que a revista "Veja" dança conforme a música. E a música da vez é o denuncionismo que visa influenciar-nos a desviar os olhos de outras questões mais importantes.
"Veja" continua dispensável.

13 de jan. de 2010

A lição


Inspirada numa brincadeira

Já era alta madrugada quando forçaram a porta da frente.
Apurou os ouvidos.
Fechadura mexida novamente.
A chuva apertava lá fora.
Ouviu leves batidas à porta.
Puxou mais as cobertas.
Passos circundavam a casa.
No silêncio do quarto escuro, sorriu.
Leves batidas na sua janela.
Prendeu a respiração.
O brilho de um raio encheu o quarto.
Em seguida, o trovão.
Batidas um  pouco mais fortes na sua janela.
Uma voz sussurra:
- Amor, me deixa entrar. Por favor. Tá chovendo gelado.
Ela riu.
Havia avisado que o Habeas Corpus só era válido até meia noite.
Eram mais de três.
- Amor, eu imploro, me deixa entrar ou vou começar a gritar e acordar as crianças.
Pé ante pé ela foi até o quarto dos filhos e com eles se deitou, tomando o cuidado de fechar bem a porta do quarto.
O marido teria que curar a ressaca sozinho. Na chuva.

11 de jan. de 2010

Fim do mundo


Inspirada numa canção

Ao ouvir a coletânea que gravara para o homem que amava, ela atentou-se para uma música, dentre tantas, que naquele momento sobressaiu-lhe aos ouvidos.
A canção, de um dos seus compositores favoritos, Paulinho Moska - que, entre outras canções fabulosas, é o autor de uma das suas favoritas, "Um e Outro", pouco conhecida, mas que tocava seu coração como poucas - falava sobre o fim do mundo.
O que faríamos se nós restasse um dia?
Quais seriam nossas prioridades?
Seríamos politicamente corretos?
Ou avacalharíamos com tudo?
Qual a nossa verdadeira índole?
Acreditamos realmente no pós vida?
Remoendo sobre essas questões, não conseguiu chegar a nenhuma conclusão e só lhe restou continuar ouvindo "O último dia".

Meu amor

O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?


Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia?
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia?


Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?


Corria pr'um shopping center
Ou para uma academia?
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia?

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?

Andava pelado na chuva?
Corria no meio da rua?
Entrava de roupa no mar?
Trepava sem camisinha?


Meu amor
O que você faria, hein?
O que você faria?

Abria a porta do hospício?
Trancava a da delegacia?
Dinamitava o meu carro?
Parava o tráfego e ria?


Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?


Meu amor
O que você faria?
O que você faria?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria
Me diz o que você faria

8 de jan. de 2010

Bendito fruto



Inspirada numa imagem


A noite mal dormida fora conseqüência da ansiedade, mas, a despeito do cansaço físico e mental estava bem. Sentia-se feliz.
Levantou antes do relógio despertar.
Depois de uma ducha rápida, sentou-se nua na cama e acariciou o ventre.
Balbuciou uma canção de ninar enquanto espalhava o hidratante pelo corpo.
Sua respiração estava calma, sua mente estava tranquila.
No horário adequado, ela e o homem a quem amava foram ao consultório.
Sala de espera cheia. Tinham hora marcada, mas precisaram pegar senha e aguardar.
Quarenta minutos depois foram chamados à sala.
Ambiente na penumbra, silencioso, a atendente fez as perguntas de praxe e pediu que ela se sentasse.
Com um ligeiro sorriso a médica se apresentou e ligou a máquina.
Os batimentos cardíacos dela se elevaram.
Uma imagem disforme surgiu na tela.
Um som forte encheu o ambiente.
- Esse é o coraçãozinho do seu bebê.
Ela e o amado apertaram-se as mãos.
Estavam vendo o filho pela primeira vez.
A mãozinha estava sobre o nariz.
As pernas, cruzadas para cima.
A cabeça bem redondinha.
E o coração.
O pequeno coração batia com uma velocidade incrível e seu som era um deleite para os ouvidos dos seus pais.
Apaixonaram-se.
O carinho, o amor já existiam, isso era claro, mas, a verdadeira entrega, a paixão de pai pra filho surgiu naquele momento.
Data prevista para o parto: 27 de julho.
Só faltavam mais 7 meses para abraçarem e beijarem a Isabel ou o Francisco.