12 de jun. de 2013

Dia dos namorados

Inspirada numa confissão


Apesar de achar o inverno a estação mais bonita do ano - as pessoas vestem-se bem e comem melhor ainda - sempre abominei o frio característico desta época do ano.
Banhos escaldantes, roupas de lã, coleções de cachecóis, gorros, chapéus, luvas, vários cobertores e dormir de meia todos os dias - independente da época do ano - são as marcas registradas de alguém como eu, que detesta sentir frio.
Contudo, desde que o Fábio Shiraga entrou na minha vida, o frio deixou de me aterrorizar, pois estou constantemente aquecida de dentro para fora.
Faz muito tempo que não registro nada por cá. No meio de turbilhão de acontecimentos na minha vida nos últimos dois anos, deixei uma parte de mim adormecida, exatamente a parte que inclui o registro de ideias e pensamentos neste espaço, mas hoje decidi roubar uns minutinhos do meu sono - coisa que zelo bastante, embora também tenha sido prejudicada pelo meu novo ritmo de vida - para confessar toda a minha admiração e o meu amor por essa pessoa que mudou a minha vida e meu modo de ver e aceitar algumas coisas.
Neste dia dos namorados - é, não acreditamos nesta conspiração mercadológica e capitalista de uma data especial e insubstituível, mas vale como boa desculpa -, parafraseando Drummond "não sei se é o conhaque ou é a lua", encontro inspiração e disposição para homenagear este grande homem, que é meu melhor amigo, meu companheiro, cúmplice, amante, aliado, amor da minha vida, meu centro, meu aquecedor.
Sou sua eterna namorada.

9 de dez. de 2011

Clarice Lispector

Inspirada numa data

Clarice Lispector morreu um dia antes de completar 57 anos e um dia antes de eu completar 3 meses de vida. Era verão de 1977, mais precisamente dia 09 de dezembro.
Apesar do que gosto de imaginar como uma semi-coincidência - termos nascido no mesmo dia, só em meses diferentes e ela ter falecido no ano em que nasci -, seu fascínio sobre mim não surgiu de imediato.
Meu primeiro contato com Clarice foi exatamente com A hora da estrela uma de suas obras mais aclamadas, mas que produziu em mim um estranhamento tão gigantesco, que cheguei a sentir aversão por aquela escrita intimista.
Para minha sorte, alguns anos depois, fui presenteada com o tocante Felicidade clandestina. A experiência foi impactante. O texto A quinta história, que até hoje figura entre os meus favoritos, me deixou perplexa ao relatar em suas ricas linhas, meus pobres pensamentos.
Eu, que já me banhava no universo da leitura há tempos, mas dava meus primeiros passos no tortuoso caminho da escrita, senti-me cerceada em minhas premissas temáticas, pois fui descobrindo que Clarice tivera o "dom" de escrever tudo o que eu queria ter escrito.
Aquela mulher com olhos felinos e rosto marcante passou, então, a ser minha companheira. Devorei A paixão segundo G.H., assim como a própria havia devorado a barata e, numa epifania - característica marcante do texto clariciano - dediquei-me a ler sua obra completa. Foi impossível adquirir vários de seus livros, em especial os infantis, mas o advento da internet e o belo e dedicado trabalho da equipe do Digital Source deram-me acesso às suas obras.
Me emocionei com Laços de Família e me deliciei com A via crucis do corpo, mas A hora da estrela seguia como uma espécie de tabu para mim e mantive-me afastada dele por mais um bom tempo.
Contudo, no 1º ano da faculdade, o melhor professor de literatura que já tive, o mestre Edvaldo Aparecido Rofatto, exigiu a leitura desta obra como nota de semestre. Tremi e temi. Mas o professor apresentou-nos as minúcias desse livro, fez contextualização com a mitologia grega, representou e chorou coma última cena do livro e me ajudou a descobrir qual era a causa do efeito que essa narrativa específica causava sobre mim.
Pronto. Clarice havia tomado conta de mim.

26 de mai. de 2011

Dois dentes de Francisco

Inspirada numa mordida


Neste 26 de maio o Francisco completa, exatamente às 10h14 da manhã, 10 meses de alegrias, sustos, descobertas e aprendizagens.
Ele tem ido à creche desde os 5 meses, pois a mamãe trabalha fora e ele, com seus dois dentinhos no maxilar inferior, suas covinhas na bochecha e seus grandes e brilhantes olhos orientais, tornou-se o queridinho da escola.
Tanto na chegada, quanto na saída, é um barato ver as crianças, de todas as séries, dando "bom dia Fanchico", "tchau Fanchico", ao que ele responde com gargalhadas, tchaus e mandando beijos.
Dia desses, no entanto, a mamãe foi buscá-lo e as monitoras vieram correndo em sua direção.
- Ele levou uma mordida.
Ela olhou para ele, que brincava despreocupadamente no chão e o pegou ligeiro no colo. Só então viu a marca de dois dentes em seu braço.
Elas explicaram à mãe que só notaram a mordida quando foram dar banho, mas que ninguém havia presenciado o "crime" e, portanto, era impossível apontar de imediato quem fora o bandido.
Iniciaram uma investigação.
A primeira suspeita foi uma menininha de 13 meses, cabelo chanel e olhar tímido, que estava sempre com ele, mas ela tinha 3 dentes, o que a excluía.
Depois, havia o único mais novo que ele na sala. Cabelinho encaracolado, 8 meses e olhar astuto. Mas esse também só tinha um dentinho e foi excluído da lista de culpados.
Diante do impasse, deixaram a investigação para o dia seguinte.
Chegando em casa, contou o acontecido e a comoção foi geral.
A avó falou em abrir inquérito. O avô disse que antes registraria um B.O.
O tio correu pegar a máquina fotográfica para registrar a prova do crime, enquanto a tia explicava ao pai, que acabava de chegar do trabalho, como teria acontecido o crime.
Então o pequeno Francisco começou a resmungar de fome.
Diante das acaloradas hipóteses sobre o acontecido, esqueceram-se completamente de alimentá-lo.
Finalmente, deram-lhe a janta e mamadeira. Como ele se sujou durante a refeição, foi necessário mais um banho.
Ao despi-lo, a mãe notou, próxima ao pulso, a marca de mais dois dentinhos.
Mas a marca não estava lá antes.
Olhou para o filho que lhe sorriu, com seus dois dentes, antes de cravá-los no braço para coçar a gengiva.