14 de out. de 2009

Cotidiano


Inspirada numa cobrança

Fez um grande esforço para levantar da cama.
Olhou o relógio, 5h50.
Detestava acordar cedo.
Não conseguia entender o expediente começar às 7h.
Arrastou-se até o banho.
A água quente lhe devolveu um pouco o ânimo.
Lembrou-se que precisava escrever.
O que eu posso escrever?
Como recomeçar a anotar frases?
A palavra é o meu meio de comunicação e eu só poderia amá-la.
Jogo com ela como se lançam dados: acaso e fatalidade.
Clarice inundou seu pensamento.
Pensou no final trágico de algumas de suas histórias.
Lembrou-se das aulas de literatura.
Certamente era influencia de Poe.
Vários temas surgiram na mente.
A hora do banho sempre era produtiva.
Em voz alta elaborou várias histórias.
Mais uma vez irritou-se por ainda não ter providenciado um gravador.
Olhou para as mãos. Os dedos já estavam enrugados.
"Merda! Vou perder hora", pensou.
Apressou-se em desligar o chuveiro.
O banheiro estava tomado pelo vapor.
Alcançou a toalha. Secou o rosto.
Saiu do banho.
Escorregou.
O impacto da sua cabeça quebrou o vidro do box.
O sangue vivo misturou-se aos resquícios de espuma de sabão.
Sua vida acabava como suas histórias trágicas.

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