27 de jul. de 2009

Viuvez

Inspirada num exemplo


Num último gesto de amor, beijou-lhe os lábios já descarnados.

Ele deu seu último suspiro, afogado no soluço dela.

Era a terceira vez que ficava vúva.

Mas há de quem a chamasse viúva negra.

No auge dos seus 89 anos, possuia uma imponência que fazia estremecer até o mais valente.

Conheceram-se numa aula de dança de salão.

Ele, um senhor a procura de exercícios físicos.

Ela, uma professora exigente que expeimentava no ensino da dança, uma retomada do vigor da juventude.

Não se pode dizer que apaixonaram-se.

Eram maduros e sabiam que as paixões eram efêmeras.

Simpatizaram um com o outro e, da simpatia mutua, surgiu o amor.

O sexo, segundo eles, era a cada 30 dias, mas de excelente qualidade.

Beijavam-se em público. Na boca.

Era lindo de se ver.

Por set anos ela o amara e a ele dedicara toda sua atenção.

Foram felizes.

Agora ele partia, vitimado pela fraqueza dos pulmões.

Ela ficava, com suas sapatilhas, em busca de um novo par para dançar.

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