1 de fev. de 2009

Partida de Truco

Inspirada num reencontro


Ele era cabeludo, rebelde, sarrista, convencido, truqueiro e um ano mais velho que ela.
Ela era muito magra, alta, tímida, estudiosa e ficava sempre por perto dele.
Ele era o líder que escalava as duplas para as disputadíssimas partidas de truco e ela era a que sempre só assistia.
Certo dia, faltava um jogador e ele a escalou para ser sua parceira.
Seu estômago embrulhou, a vista escureceu e, antes que percebesse, refutava o convite:
- Não sei jogar truco.
Com ar zombeteiro ele disse alguns palavrões e afirmou que era impossível ela sempre ficar vendo-o jogar sem ter aprendido nada e se propôs a ensiná-la. Seu sorriso era tão lindo que ela não pôde recusar.
Ele desenhou os naipes do baralho e a seqüência das cartas num guardanapo de papel e sentou a seu lado para combinar os sinais que trocariam durante o jogo.
O perfume dele a deixava atordoada, mas ela se esforçava para prestar atenção a cada gesto e expressão facial dele, bebendo suas palavras como um sedento bebe água após longo tempo ao sol.
Com um pouco de remorso, ela lembrou do pai que a ensinara, desde pequena, todos os macetes do jogo e pensou, com culpa, em todos os troféus de torneio de truco empilhados no guarda-roupa, mas o vento trouxe novamente o cheiro dele às suas narinas e ela decidiu seguir em frente com a mentirinha.
Após cinco rápidas partidas em que massacraram os adversários, ele anunciou que a sorte da principiante seria colocada à prova novamente no dia seguinte e que ele estava desafiando todas as duplas para um campeonato contra eles. Ela consentiu.
Após o sorvete de comemoração, ao se despedirem, ele sussurrou em seu ouvido:
- Parceira, espero que nossa sorte no namoro dure tanto quanto sua sorte no jogo.
A sorte no namoro deles foi muito boa... enquanto durou.

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