Ele não ligou como prometera.
Ela tinha passado o dia com o celular na mão, checando-o de minuto em minuto, mesmo sem ter tocado.
A noite, em claro, fora um martírio.
Pela manhã estava com olheiras e mau humor.
Depois do costumeiro café, sem açucar, saiu às compras.
Como no dia anterior, foi para a loja de lingerie, mas dessa vez, não escolheu conjuntos sexies, nem calcinhas provocantes. Comprou um pijama longo. De flanela.
Dirigiu-se ao supermercado e, no lugar de comprar ingredientes para um jantar romântico e velas, comprou lasanha congelada, chocolate, pipoca de microondas e lenço de papel.
No mercado municipal presenteou-se com luvas, um gorro e longas meias coloridas, com dedinhos.
Antes de voltar para casa, parou na locadora e escolheu meia dúzia de filmes antigos, em preto e branco, daqueles que tornam o choro inevitável.
Já em casa, descarregou as compras, ligou um Blues e entrou no banho.
Enquanto a água fervente escorria por seu corpo, ouvia Stevie Ray Vaughan e sentia raiva de si mesma. Dois dias antes havia se depilado inteira. Teve náuseas de dor a cada puxada de cera, a virilha ficara avermelhada, mas tudo era válido para agradá-lo.
Desgraçado, sofrera em vão.
Ao som da gaita de Cephas & Wiggins, secou os cabelos, vestiu o pijama novo, o gorro, as luvas e calçou as meias com dedinhos.
Gargalhou ao se ver no espelho. Aquela era ela. Nada convencional. Estava com saudades de si mesma e se jogou um beijo estalado.
Levou para a cama seu "kit-dia-frio-deprê": comida pronta, chocolate, pipoca, lenço de papel e uma garrafa de vinho (intacta desde a noite anterior).
Colocou o primeiro filme e aconchegou-se.
Pronto.
Agora sim, poderia chorar todas as suas mágoas.
De mais....
ResponderExcluirSorte a minha.
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