16 de nov. de 2009

Carolinas na madrugada


Inspirada numa lua-de-mel

A presente história é baseada na história "madrugada na padaria", de Fábio Shiraga


Ela escreveu a ele:

Me deu água na boca de pensar naquelas carolinas... e estremeci de lembrar a hora em que as trouxe pra mim. Boas recordações.

Ele fora correndo, passos largos e rápidos lá para o Empanadas.
Mal olhou para os lados, apesar de ter várias pessoas circulando ali pela Vila Madalena.
Ele gostava de observar as pessoas.
Não apenas a beleza das mulheres, mas os estilos diferentes, os tipos que ficam na calçada ou nos bares conversando, segurando seus copos, fumando na calçada, gesticulando...
Em inglês esta atividade tem até nome: people watching.
Mas, o que importava naquele momento, é que tinha alguém esperando por ele.
Mesmo que ela estivesse dormindo àquela hora, ela o esperava e ele queria estar com ela. Logo.
Parou, primeiro, na padaria 24 horas.
Ficou, ali, olhando a vitrine, pensando o que levar.
Alguns bolos estavam apetitosos, mas eram grandes demais e as fatias, refrigeradas, deveriam ser consumidas imediatamente ou colocadas na geladeira.
Julgou que os pedaços não estariam tão bons no outro dia, mesmo que o dia seguinte começasse dali a algumas horas.
Viu as carolinas recheadas com avelã.
Lembrou que ela, seu amor, tinha perguntado se ele gostava delas.
Comprou e saiu rápido para pegar as empanadas e desceu a rua segurando e equilibrando a bandeja.
Os passos largos e rápidos o faziam transpirar, mas ele não se importava.
Só pensava em estar com ela novamente.
Deixou a bandeja de empanadas e a sacolinha da padaria com as carolinas de avelã no balcão de hotel e foi buscar as bebidas em outra padaria.
Tinha fila no caixa.
Ficou com raiva da menina da frente que demorou para pagar, ficou procurando as moedas, depois decidiu pegar mais um sorvete.
Será que ela não tinha noção da sua pressa?
Ele tinha alguém lhe esperando, e ela pedira para que ele não se atrasasse!
As pessoas tendem a ser egoístas quando estão apaixonadas.
A guria da fila, a que procurava moedas, deveria lhe ceder o lugar, pois estava estampado em seu rosto que o amor da sua vida o esperava no segundo andar do prédio do outro lado da calçada.
Finalmente chegou sua vez. Pagou.
Os mesmos passos largos e rápidos o levaram para o quarto.
Subiu feliz, suando é certo, mas muito feliz.
Bateu na porta do quarto.
Segundos de expectativa.
Nada de ela responder.
Minutos de expectativa.
Nada de ela responder.
Desceu à recepção e pediu que ligassem no quarto.
- Boa noite, senhora. Poderia abrir a porta para seu marido? - avisou o recepcionista.
Subiu pulando os degraus de dois em dois.
Ela abriu a porta. Linda. De vermelho.
Agora já não tinha mais pressa.

Sim, ele também tinha ótimas recordações da noite em que lhe levou carolinas.

11 de nov. de 2009

Quebra de rotina


Inspirada num acontecimento

Estava trabalhando.
Repartição lotada.
O trabalho era árduo.
Corredores cada vez mais lotados de pessoas esperando para serem atendidas.
O estresse tomava conta dela.
O burburinho de vozes chegava a ser ensurdecedor.
Um homem corpulento, pediu passagem e atravessou o corredor.
Silêncio absoluto.
Todos os olhares o acompanharam, sedentos de curiosidade.
Uma voz de trovão chama:
Fulana de Tal.
Entrega para Fulana de Tal.
Levantou os olhos do documento que preenchia.
Alguém apontou em sua direção.
O homem lhe estendeu os braços sorrindo.
Sem jeito, ela sorriu de volta.
Palmas.
Muitas palmas.
As pessoas que aguardavam estavam tocadas com a cena.
Ela derramou lágrimas.
Lágrimas de diamante.
Várias pessoas disseram:
- Feliz Aniversário!
Respondeu que não era seu aniversário.
Apenas estava amando e sendo amada.
Olhares de inveja caíram sobre ela.
Alguns sorriram, não por ela, mas por nostalgia.
Precisou parar o atendimento, por instantes, para buscar água e um vaso grande.
Um vaso bem grande.
Pronto.
As flores do seu amor estavam salvas.
Aproveitou a quebra da rotinha e tentou ligar para ele.
Aí, se deu conta de que ele estaria trabalhando naquele momento.
Com um suspiro, limitou-se a voltar ao lugar para, entre um atendimento e outro, rascunhar um agradecimento ao dono do seu coração.