O fato, quando notado, surpreendeu a todos.
De repente, após 35 anos de vício, sem alarde ela parou de fumar.
Ela era assim. Impulsiva e racional. Discreta e exuberante. Independente e solidária. Segura e delicada.
Domingo ensolarado, reuniu-se com toda a família para comemorar o aniversário da sobrinha mais velha. Riu, cantou, comeu e bebeu e partiu em direção à metrópole para desempenhar, com maestria, seu papel de doutora.
Era uma bem sucedida profissional-esposa-mãe-filha-irmã-tia-cunhada-patroa-amiga.
Na noite de segunda-feira ligou para o marido a fim de lembrá-lo - como se fosse necessário - que no dia seguinte fariam 32 anos de casados.
Como sempre, despiu-se completamente e deitou-se para dormir.
No dia seguinte, com a intenção de fazer uma surpresa em comemoração às bodas, o marido dirige até a capital e, com flores em punho, pede para o recepcionista do hotel chamá-la.
Primeiro toque, silêncio.
Segundo toque, silêncio.
Ela devia estar no banho, ele aguardaria.
Passaram-se 30 minutos.
Mais um toque, silêncio.
Outro toque, silêncio.
- Chamem a segurança. Vamos arrombar a porta.
Quando finalmente conseguiu entrar no quarto, encontrou-a linda, nua, na mesma posição em que havia deitado para dormir. Já estava gelada.
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